O presente artigo, escrito na forma de ensaio, discute questões teóricas e historiográficas relativas à proposta de se estabelecer a História dos Sertões como uma área específica de estudos, concebida por meio de um diálogo aberto e crítico com as demais perspectivas que tematizaram os sertões nos diferentes campos de conhecimento das Humanidades ao longo do tempo, no Brasil e no exterior. Considerando a necessária atenção à pluralidade histórica e semântica do conceito de “sertão” e seus correlatos em idiomas estrangeiros, o artigo estuda a questão do impacto das formas limitadas de história possíveis diante da imposição de um ponto de vista europeu. O artigo propõe um breve encontro entre tal ponto de vista (denominado como eurocentrismo) e as proposições de alguns estudiosos ligados aos chamados estudos pós-coloniais e estudos subalternos e pondera sobre a possibilidade de uma área de investigação dedicada à história e historiografia dos sertões organizada através da sistematização dos estudos dispersos sobre o assunto e, sobretudo, do trabalho com o conceito de sertão como ferramenta para a construção de historiografias brasileiras e americanas mais diversas e plurais. De modo geral, a pesquisa procura examinar as dimensões políticas, sociais e intelectuais de um conceito que se articula aos principais debates que compõem o âmbito historiográfico contemporâneo no que diz respeito, por exemplo, às relações entre natureza e cultura, à problemática das chamadas novas e “velhas” espacialidades (o nacional, o regional, o global etc.) e à colonialidade do poder.