Resumo: A noção de capacidade é central para o tema da deficiência e suscita reflexões sobre como a lógica capacitista organiza a sociedade a partir do binômio corpos capazes e corpos não capazes. No presente artigo, parto das práticas de cuidado de adultos com deficiência intelectual para examinar como o binômio infância e adultez espelha tal lógica capacitista. A partir de pesquisa realizada junto às mães de adultos com deficiência intelectual na cidade de Porto Alegre entre os anos de 2017 e 2018, analiso os paradoxos de uma maternidade que é, ao mesmo tempo, responsável pela promoção da “autonomia e independência” de seus filhos e pelo seu bem-estar físico. Argumento que as noções de adulto e criança são constantemente acionadas para classificar comportamentos de pessoas com deficiência intelectual, fazendo com que a tensão entre tutela e autonomia que medeia o cuidado seja produzida a partir de noções rígidas do que é “ser um adulto”. Proponho, por fim, que a categoria de adultez, tal qual a de capacidade, se aplica de forma hierárquica na categorização de pessoas e na avaliação do bom cuidado para adultos com deficiência intelectual.