O comprometimento cognitivo (CC) consiste no declínio de um ou mais domínios cognitivos. Existem fatores fisiopatológicos comuns entre a doença renal crônica (DRC) e o CC. O objetivo deste estudo foi comparar os resultados da avaliação neuropsicológica com achados de marcadores inflamatórios e de ressonância magnética (RM) do encéfalo em pacientes com DRC. Trata-se de um estudo transversal em pacientes com DRC não dialíticos nas categorias 1 a 5 em uma clínica de atenção secundária, de 2013 a 2014. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Foram feitas anamnese estruturada, aplicação de questionários clínicos de depressão, triagem neuropsicológica ampla e questionário de funcionalidade de Pfeffer. Os dados sociodemográficos e clínicos foram coletados em prontuários médicos. Os dados laboratoriais foram coletados incluindo a dosagem de IL-4, IL-6, IL-17, TNF- e PCR-us. As imagens de RM do cérebro foram realizadas em aparelho de alto campo de 1,5 Teslas, sem uso de contraste paramagnético. As escalas de Fazekas foram usadas para quantificar as lesões da substância branca, a escala MTA para quantificar o envolvimento do hipocampo, a escala ACG para atrofia cortical global. Foram convidados 111 pacientes, oitenta concluíram a avaliação neuropsicológica e 56 pacientes realizaram a RM e as demais etapas do estudo. A média de idade foi de 56,3 ± 8,3 anos, 55,4% homens, 51,8% apresentavam MoCA alterado. Comparando aqueles com MoCA alterado vs. normal, observou-se que houve menor escolaridade (p = 0,04), maior uso de diuréticos (p = 0,04) e AAS (p = 0,002); além de níveis mais elevados de IL-6 (p = 0,02) e IL-17 (p = 0,05) entre aqueles com MoCA alterado. Não houve correlação entre MoCA e TFGe. MoCA correlacionou com IL-6 (R -0,201, p = 0,04). Houve uma correlação entre TFGe (IL-4 [R -0,467, p = 0,005]; IL-6 [R -0,652, p < 0,001]; IL-17 [R -0,554, p = 0,001]), TNF- (R -0,684, p < 0,001). Não houve correlação entre os achados na RM e TFGe ou MoCA. Em um modelo de regressão linear, as variáveis IL-17 e IL-6 foram preditores independentes de menores valores de MoCA (IC -0,031 a -0,002, p = 0,002; IC -0,012 a -0,001, p = 0,002). Os demais testes neuropsicológicos apresentaram diferenças e associações com os dados sociodemográficos, laboratoriais e de imagem, não tendo sido determinado um padrão único de relações. Concluiu-se que a prevalência de alterações no MoCA nesta população foi de 51,8%, o TFGe foi correlacionado com a inflamação, o MoCA foi negativamente correlacionado com o IL-6. Não houve associação entre os achados de RM e TFGe ou variáveis inflamatórias, e, ao contrário das IL-17 e IL-6, a TFGe não foi um preditor dos valores de MoCA.