. O artigo avalia a prevalência e fatores associados à depressão em gestantes atendidas por meio do sistema público de saúde da cidade de Pelotas. Trata-se de pesquisa de enorme relevância para a saúde pública que aborda tema frequentemente relegado a plano secundário na assistência às gestantes. O estudo mostra que 21% das participantes apresentam episódio depressivo na gravidez, ressaltando a importância do papel do profissional de saúde no diagnóstico precoce e adoção de medidas terapêuticas. No entanto, gostaríamos de fazer um reparo ao trabalho e comentar seus resultados. Na introdução, os autores afirmam que este é primeiro estudo nacional em amostra representativa da população. Nosso artigo "Common mental disorders during pregnancy: prevalence and associated factors among low-income women in São Paulo, Brazil", publicado no periódico Archives of Womens ' Mental Health, em 2009 2 , avaliou um grupo de 831 gestantes com características sociodemográficas muito semelhantes atendidas em pré-natal nas unidades de atenção primária do sistema público de saúde da região Oeste da cidade de São Paulo. Gostaríamos de destacar que a prevalência de depressão/ansiedade avaliada por meio da Clinical Interview Schedule-Revised (CIS-R) foi igualmente de 20%. Quanto aos fatores associados à depressão, também observamos que história de tratamento psiquiátrico prévio, uso de álcool e tabagismo mostraram-se fortemente associados com prevalência de depressão. Também do mesmo modo que o observado por Silva et al.1 , não ter parceiro (p = 0,09) e baixa escolaridade (0,02) se associaram com depressão apenas na análise univariada. Por outro lado, diferentemente dos resultados do estudo de Pelotas, não encontramos associação entre depressão na gestação e número de gestações anteriores, gravidez planejada ou ter mais idade. Pelo contrário, em nossa amostra, a idade mais jovem na gestação atual é que apresentou associação estatisticamente significante com o desfecho em questão, sugerindo que talvez fatores contextuais possam modificar a associação entre idade e depressão na gravidez.Por se tratar de problema tão prevalente e com potenciais consequências para a mulher e para o bebê, a exemplo de nossos colegas de Pelotas, acreditamos que novas pesquisas nacionais sobre depressão no ciclo gravídico-puerperal são necessárias para auxiliar no desenvolvimento de programas e políticas públicas que permitam melhorar efetivamente a assistência às gestantes oferecida pelo Sistema Único de Saúde do país.