INTRODUÇÃOO câncer é uma doença que está entre as principais causas de morte, constituindo atualmente no Brasil a segunda causa de mortalidade, sendo superado apenas pelas doenças cardiovasculares 1 . Segundo o Instituto Nacional de Câncer, a incidência no Brasil é de aproximadamente 400.000 novos casos por ano, sendo que destes cerca de 127.000 evoluem a óbito 1 . Nos EUA, esses números são ainda maiores, sendo que para o ano de 2004 a estimativa foi de 1.368.000 novos casos e 563.700 óbitos 2 . Apesar dos grandes avanços no tratamento oncológico, nem sempre é possível obter a cura; com isso, muitos pacientes passam a necessitar de cuidados que visam, além do controle da dor e de outros sintomas diversos, interferir nos aspectos psicológicos, sociais e espirituais, no intuito de investir na melhora de sua qualidade de vida 3 . O termo "palliare" tem origem no latim e significa proteger, amparar, cobrir, abrigar, ou seja, a perspectiva do cuidar e não somente curar 4 . De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cuidados paliativos são definidos como cuidados ativos e totais aos pacientes quando a doença não responde aos tratamentos curativos, e o controle de sintomas torna-se prioridade, objetivando melhor qualidade de vida para pacientes e familiares 5 . Já o conceito de qualidade de vida pode ser definido como uma avaliação global que o sujeito faz da sua vida, e depende tanto das características do sujeito (demográficas, personalidade, valores, etc) como de moduladores externos, como a doença, seus sintomas e o tratamento que esta requer 5 . A depressão é comum em pacientes com câncer em estágio terminal e pode ser uma importante fonte de angústia tanto para o paciente como para seus parentes 6,7 . A importância de se diagnosticar a depressão em pacientes sob cuidados paliativos deve-se ao fato de que, além do comprometimento emocional, os pacientes deprimidos também apresentam sintomas físicos que são difíceis de "paliar" e que podem ser facilmente aliviados quando a depressão é tratada adequadamente, com a conseqüente melhora da qualidade de vida deste indivíduo 7 . Apesar dos benefícios observados com o tratamento da depressão, esta ainda permanece freqüentemente subdiagnosticada 8,9,10 . De fato, Maguire (1985) mostrou que mais de 80% das comorbidades psicoló-gicas e psiquiátricas presentes nos pacientes oncológicos passam despercebidas e não são tratadas 11 . Acredita-se que uma explicação para esta baixa taxa de detecção dever-se-ia a não comunicação efetiva do paciente com seu médico, por achar que, de alguma forma, seria o culpado pela sua angústia ou que estaria desperdiçando o tempo do profissional e, portanto, optaria por esconder seus verdadeiros sentimentos 12 . Na literatura brasileira, ainda são poucos os estudos que enfocam o paciente oncológico em cuidados paliativos, suas necessidades, sua qualidade de vida e a presença de depressão nesta fase de sua vida.