RESUMO -Dermatose neglecta caracteriza-se por ser uma afecção formada por camadas compactas e aderentes de células cór-neas, sebo e lixo exógeno. Higiene inadequada na pele com imobilidade, hiperestesia, trauma prévio ou cirurgia são usualmente os fatores desencadeantes. Reconhecer este diagnóstico evita condutas diagnósticas agressivas e terapêuticas desnecessárias. Relatamos caso de paciente com dermatose neglecta devido à falta de higiene em local de intervenção prévia.
PALAVRAS-CHAVE -
INTRODUÇÃODermatose neglecta resulta de acúmulo de sebo, corneó-citos e bactérias localizadas na pele, além de pomadas ou outros tópicos e lixo exógeno, formando uma camada compacta e aderente.1 Esta afecção provavelmente possui prevalência subestimada² e, apesar de ser assintomática, esteticamente trata-se de uma dermatose incómoda. Reconhecer esta patologia de diagnóstico clínico e terapêutica acessível pode evitar maiores prejuízos aos pacientes. Abaixo, relatamos caso de paciente com essa dermatose após ser submetido a procedimento cirúrgico.
RELATO DE CASOPaciente masculino, 62 anos, com lesão no couro cabeludo, de aproximadamente 5x10cm, formada alguns meses após a exérese completa de carcinoma espinhocelular. Não apresentava outras comorbidades, incluíndo história de patologias psiquiátricas. Reside com esposa e filhos. Ao exame, apresentava extensa placa simulando escamo-crosta com coloração do castanho ao negro da região fronto-parietal até à occipital (Fig. 1). No exame histopatológico foi evidenciada hiperpigmentação da camada basal e hiperceratose. O paciente foi adequadamente orientado quanto a higiene e remoção mecânica das crostas, o que levou a resolução completa do quadro (Fig. 2).
DISCUSSÃOA dermatose neglecta foi descrita pela primeira vez por Poskitt et al em 1995.3 Pode afetar todas as faixas etárias e ambos os sexos. 4,5 Frequentemente é uma afecção subdiagnosticada 3,6 e eventos estressantes anteriores ao início do quadro podem atuar como fatores desencadeantes.6 Higiene inadequada gera acúmulo progressivo de restos celulares, sebo, suor e outras substâncias exógenas (medicamentos tópi-cos, "lixo") resultando clinicamente em áreas de hiperpigmentação plana e até placas verrucosas com escamas aderentes.