Desempenho em disciplinas de CAD 3D: associação com níveis de raciocínio e faltas. Que satisfação em contexto de pré e pós-pandemia?

Abstract

O presente trabalho tem por objetivo conhecer melhor os fatores que influenciam o desempenho acadêmico em disciplinas onde se ensina Desenho Tridimensional Assistido por Computador (CAD 3D), tendo sido desencadeado pela constatação, ao longo de mais de uma década de lecionação destas matérias, da enorme disparidade nas capacidades de aprendizagem e prática dos discentes, bem como as surpreendentes dificuldades que alguns alunos com bom aproveitamento noutras unidades curriculares evidenciavam nestas disciplinas. Complementarmente, analisam-se os níveis de satisfação dos alunos decorrentes das alterações associadas à situação da pandemia Covid-19. A investigação reporta-se a alunos do primeiro ano das licenciaturas em Design Industrial e Engenharia Aeronáutica da Universidade da Beira Interior, tendo sido efetuado durante o primeiro semestre letivo a 55 alunos que aceitaram nela participar de uma forma livre e informada. Foram recolhidos dados sobre raciocínio diferencial, através da Bateria de Provas de Raciocínio Diferencial (BPRD, Almeida, 1986), o desempenho acadêmico, o número de faltas e os níveis médios de satisfação dos alunos antes (2017-18) e depois (2019-20) da pandemia. Os resultados revelaram correlações significativas e moderadas de, respetivamente .47 e .38 entre os raciocínios mecânico e numérico e a classificação na disciplina. Já as correlações encontradas entre raciocínio espacial e verbal e a classificação na disciplina não foram significativas. A correlação entre o número de faltas às aulas e a classificação na disciplina revelou-se, igualmente, moderada, significativa e negativa (r= -.37). A comparação do nível médio de satisfação dos alunos em contexto pré e pós pandemia demonstrou um aumento ligeiro dos valores. Constata-se que a necessidade de continuadas e, por vezes complexas, manipulações espaciais necessárias ao exercício e domínio do CAD 3D, encontra claramente suporte nas capacidades de raciocínio mecânico e numérico. As diferentes capacidades reveladas pelos alunos tornam potencialmente pertinente a implementação da avaliação de processos cognitivos no início das aulas e de treino cognitivo para os alunos com níveis mais baixos. Os dados sugerem a importância da presença física e virtual nas aulas, sendo que a virtualização acrescida decorrente da situação da pandemia foi acompanhada de um ligeiro aumento do nível de satisfação. Assim, disciplinas e áreas científicas que impliquem uma continuada e complexa manipulação mental de formas e objetos parecem depender de capacidades prévias dos discentes que podem explicar a forte variação no seu rendimento acadêmico e do nível e contexto de envolvimento nas atividades escolares.