Desigualdade e conjuntura: quatro anos de dados trimestrais da PNAD Contínua (2012-2015)

Abstract

Este pequeno artigo trata da evolução da desigualdade de renda no Brasil entre 2012 e 2015, calculada a partir dos microdados trimestrais da PNAD Contínua e utilizando o índice de Gini. Tal análise possibilita identificar um padrão conjuntural para a trajetória da desigualdade, com aderência ao comportamento do mercado de trabalho na maior parte do período, apontando ainda para um aumento da desigualdade no último trimestre de 2015 após um descolamento com relação ao mercado de trabalho para os três primeiros trimestres do mesmo ano.

Oito anos de PNAD Contínua (2012-2019): regularidades para desigualdade de renda trimestral e mercado de trabalho

“…Considerando-se que, em bases trimestrais, a PNADC é restrita ao rendimento de todos os trabalhos, deixando de fora, grosso modo, os rendimentos provenientes de aposentadorias, pensões, aluguéis, doações, aplicações financeiras e transferências governamentais 2 , há certa preponderância de estudos focados na distribuição de rendimentos de todos os trabalhos da População Economicamente Ativa (PEA) ou apenas entre as pessoas ocupadas , ou ainda para a renda do trabalho per capita. Outros estudos tentam avançar também para a renda domiciliar per capita, alocando os rendimentos do trabalho em cada domicílio e dividindo-os pelo número de componentes do domicílio, ainda que restritos à renda do trabalho (Leite, 2016;Neri, 2019).…”

“…Para a segunda, também observamos reduções na desigualdade captada, com diferenças tipicamente sendo inferiores a 0,0008, apesar de termos 0,0018 no segundo trimestre de 2013, 0,0040, 0,0051 e 0,0011 entre o segundo e o quarto trimestres de 2014 e diferenças entre 0,0028 e 0,0048 no período que abrange os últimos trimestres de 2016 e 2017. (Leite, 2016), um retorno gradual ao padrão sazonal pode ser observado entre 2017 e 2019, porém, num contexto de alta tendencial da desigualdade com picos nos primeiros trimestres, apesar de queda tendencial da desocupação.…”

“…Gráfico 3. ‹ndice de Gini e taxa composta da subutilização Quanto ao relativo descolamento das séries, com perda do padrão sazonal mais bem demarcado até 2014, observa-se que parte da explicação encontrada em Leite (2016) permanece válida: empregados no setor privado giram em torno dos 44,5 milhões no início da série, chegam perto dos 47 milhões em meados de 2014 e iniciam 2019 em menor número que os 44,5 milhões iniciais, atingindo 45,5 milhões no último trimestre de 2019. Trabalhadores por conta própria iniciam a série na faixa dos 20,5 milhões, passam de 22 milhões somente em meados de 2015 e ao fim de 2019 já passam dos 24,5 milhõesno quarto trimestre de 2019, a renda média dos trabalhadores por conta-própria equivalia a 86,4% daquela obtida pelos empregados do setor privado (77,9% se a comparação se restringe aos empregados do setor privado com carteira de trabalho assinada).…”

“…Mudanças importantes, anunciadas em setembro de 2016, foram ainda introduzidas, possibilitando a mensuração de subocupação e subutilização da força de trabalho. Algumas tentativas anteriores de análise dos dados trimestrais, com metodologias nem sempre compatíveis, como em Leite (2016), Hoffmann (2017) e Neri (2019) são também acessadas.…”

“…Desse modo, as correlações encontradas entre o índice de Gini e as quatro taxas representativas do mercado de trabalho descritas em parágrafo subsequente são mais baixas em todos os casos utilizando-se o rendimento habitual (VD4019) na comparação com o rendimento efetivo (VD4020).5 Comparando-se os resultados aqui apresentados com os obtidos porLeite (2016), as duas alterações mais abrangentes nos microdados, no concernente ao cálculo da desigualdade da RDPC de todos os trabalhos, referem-se às mudanças nos pesos a partir da reponderação de todos os dados entre 2012 e 2018 em virtude de revisão na projeção da população (IBGE, 2019a), com efeito em maio de 2019, e da introdução de um algoritmo de identificação e tratamento de outliers (IBGE, 2019b) nos rendimentos do trabalho que atingiu toda a série, de 2012 a 2019, com mudanças mais pronunciadas com relação aos dados divulgados anteriormente nos trimestres com identificação de um número…”