INTRODUÇÃOA síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS) é a conseqüência da infecção por um vírus de RNA, da família dos retrovírus, denominado vírus da imunodeficiência humana (HIV) 1 . Esse vírus tem tropismo específico para células que apresentam o antígeno de superfície CD4, cujos principais representantes são linfócitos T auxiliares e células do sistema macrofágico-monocitário 2 . A ligação do HIV com a célula hospedeira ocorre por interação entre uma glicoproteína do envelope viral, a gp120, e a molécula CD4 das células hospedeiras, e propicia a internalização da partícula viral. Uma vez no interior da célula hospedeira, o vírus é descoberto e seu RNA é convertido em DNA, por meio da ação da enzima transcriptase reversa. O DNA viral será, então, incorporado ao DNA do hospedeiro, possibilitando o início da sua replicação 3,4 . Em adultos, a infecção aguda pelo HIV-1 é caracterizada pelo surgimento de uma síndrome mononucleósica. Neste período, que precede a soroconversão, o vírus pode ser detectado no líqui-do cefalorraquidiano (LCR), plasma e células mononucleares do sangue periférico (PBMC) 4 . Na fase de soroconversão, ocorre um rápido declínio da quantidade de vírus livres e intracelulares, sugerindo o surgimento de uma resposta imune capaz de limitar a replicação viral 5 . Após essa fase, os pacientes entram em um período assintomático que pode durar vários anos, caracterizado por baixa replicação viral e por declínio contínuo e gradual do número de linfócitos CD4+. Entretanto, apesar da aparente latência, estudos longitudinais demonstraram que a carga viral total aumenta lenta e inexoravelmente nesse período de estabilidade clínica 6 . A progressão da doença caracteriza-se, então, por diminuição rápida do número de linfócitos CD4+, aumento de viremia plasmática e celular, e por surgimento de síndromes clínicas associadas à imunodeficiência.À semelhança do que ocorre em adultos, crianças infectadas pelo HIV-1 apresentam alterações da função imune, predispondo-as a um maior risco de infecções secundárias. Entretanto, crianças infectadas in utero ou no período perinatal apresentam latência relativamente curta antes do surgimento da fase sintomática 7 . A viremia plasmática, nesses pacientes, é superior à daqueles infectados após os três meses de idade 8 . Clinicamente, as crianças infectados por via vertical tendem a apresentar evolução mais rápida e severa do que aquelas infectadas por outras vias 7 . Esses dados sugerem que as variações no espectro clínico, neste grupo de crianças, refletem o grau de imaturidade do sistema imune no momento da infecção pelo HIV-1.Este artigo revê a ontogenia do sistema imune humano e suas implicações na imunopatogenia da infecção vertical pelo HIV-1 em crianças.
RESPOSTA IMUNITÁRIA HUMORAL NORMAL EM CRIANÇASOs linfócitos pré-B são inicialmente detectadas no fígado fetal humano na oitava semana de gestação e na medula óssea a partir da 12 a9 . Após a 30 a semana, essas células são encontradas exclusivamente na medula 9 . Células B expressando IgM de superfície pode...