THE CHEMISTRY OF INDIGENOUS PEOPLE OF SOUTHAMERICA. The contribution of non-European cultures to science and technology, primarily to chemistry, has gained very little attentions until now. Especially the high technological intelligence and inventiveness of South American native populations shall be put into a different light by our contribution. The purpose of this essay is to show that mainly in the area of chemical practices the indigenous competence was considerable and has led to inventions profitable nowadays to millions of people in the western world and especially to the pharmacy corporations. We would like to illustrate this assumption by giving some examples of chemical practices of transformation of substances, mainly those unknown in the Old World. The indigenous capacity to gain and to transform substances shall be shown here by the manufacture of poisons, such as curare or the extraction of toxic substances of plants, like during the fabrication of manioc flower. We shall mention as well other processes of multi-stage transformations and the discovery and the use of highly effective natural substances by Amazonian native populations, such as, for example, rubber, ichthyotoxic substances or psychoactive drugs.Keywords: Amazonia; indigenous knowledge; pre-Columbian technology.
INTRODUÇÃONeste ensaio, 1 pretendemos mostrar que, no que concerne ao conhecimento relativo às práticas químicas, a criatividade e a inteligência técnica dos povos indígenas da América do Sul, são competências consideráveis até os dias de hoje. Os povos ameríndios, em especial os da bacia amazônica, desenvolveram práticas que levaram a invenções das quais, até hoje, milhões de pessoas se beneficiam.A história da química, assim como a história da ciência e da tecnologia em geral, ainda reluta em reconhecer devidamente as contribuições das culturas extraeuropeias. É verdade que o historiador Hermann Kopp permitiu-se, no primeiro volume de sua história da química, falar brevemente dos egípcios e dos fenícios, afirmando de maneira geral que "a química científica [...] se correlaciona estreitamente com o conhecimento empírico, baseando-se por demais nele, para que pudéssemos ignorar inteiramente épocas em que fatos que fazem parte da sua esfera já fossem conhecidos, embora não se pensasse ainda na relação desses fatos por um elo intelectual". 2 Nesta avaliação, fica inequivocamente claro que as práticas quí-micas de transformação de substâncias mais desenvolvidas também são um tema que compõem a história da ciência, não restringindo-se apenas ao campo da teoria. Estas práticas também são expostas em obras sobre a história da química, mas fundamentalmente a partir de um enfoque eurocêntrico. Uma exposição mais detalhada das contribuições de culturas extraeuropeias continua sendo, até hoje, a exceção. Somente a contribuição da China e da Índia para o desenvolvimento da ciência e da técnica, e particularmente da química, está presente no senso comum graças às obras monumentais de Joseph Needham e seus seguidores (Science and Civilizati...