IntroduçãoA febre reumática (FR) e a cardiopatia reumática crônica (CRC) são complicações não supurativas da faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A e decorrem de resposta imune tardia a esta infecção em populações geneticamente predispostas [2][3][4] . Essa é uma doença que está frequentemente associada à pobreza e às más condições de vida. Assim, apesar da reconhecida redução da incidência da FR nas últimas décadas nos países desenvolvidos, com consequente redução na prevalência da CRC, a FR permanece como um grande problema de saúde pública, principalmente nos países em desenvolvimento 2,4 .A FR afeta especialmente crianças e adultos jovens. A mais temível manifestação é a cardite, que responde pelas sequelas crônicas, muitas vezes incapacitantes, em fases precoces da vida, gerando elevado custo social e econômico [2][3][4][5] . Os gastos gerados pela assistência aos pacientes com FR e CRC no Brasil são significativos: em 2007, foram gastos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) cerca de R$ 157.578.000,00 em internações decorrentes de FR ou CRC, de origem clínica ou cirúrgica, sendo que, das cirurgias cardíacas realizadas neste período, 31% abordaram pacientes com sequelas de febre reumática 6 . Apesar da reconhecida importância do problema e da existência de estratégias comprovadamente eficazes de prevenção e tratamento da faringoamigdalite estreptocócica, as ações de saúde desenvolvidas até hoje têm se mostrado insuficientes para o adequado controle da FR no Brasil.Nesse contexto, as sociedades brasileiras de Cardiologia, de Pediatria e de Reumatologia tomaram a iniciativa de discutir e elaborar estas Diretrizes, com objetivo principal de oferecer recomendações sobre as estratégias diagnósticas, terapêuticas e preventivas para a febre reumática, baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis na atualidade.A despeito de iniciativas regionais de programas visando à prevenção da FR nas últimas décadas, a inexistência de um programa de âmbito nacional contribuiu para que a FR mantivesse taxas de prevalência ainda bastante elevadas [7][8][9] . Um programa desse tipo certamente deverá envolver ações multissetoriais, tais como: atividades educativas para os profissionais e para a comunidade; treinamento dos profissionais nos seus campos de atuação; melhorias no acesso aos serviços de saúde no âmbito do SUS; investimentos em recursos materiais que visem ao diagnóstico e ao tratamento adequado da doença reumática; além de investimentos em atividades de pesquisa relacionadas ao tema 2,4 . Estas Diretrizes recomendam a criação de um Programa Nacional de Prevenção e Controle da Febre Reumática [10][11][12] .
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EpidemiologiaEm países desenvolvidos ou em desenvolvimento, a faringoamigdalite e o impetigo são as infecções mais frequentemente causadas pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBGA). No entanto, somente a faringoamigdalite está associada ao surgimento da FR. O EBGA é o responsável por 15%-20% das faringoamigdalites e pela quase totalidade daquelas de origem bacteri...