A dor crônica caracteriza-se pela persistência do sintoma além do período fisiológico de recuperação do tecido lesado. Essas dores causam incapacidade física e redução da performance cognitiva, reduzem a qualidade de vida e o bem-estar dos pacientes, cujo tratamento proposto contradiz o clássico binômio da terapia da dor aguda (repouso e fármacos). Para a dor crônica prescrevem-se exercícios físicos e sugerem-se tratamentos multidisciplinares. Embora a atividade física seja prescrita há mais de 20 anos, os mecanismos neurofisiológicos envolvidos ainda não são compreendidos. Descrevemos brevemente os mecanismos endógenos de controle da dor crônica e evidências da literatura científica que defendem o sistema opioide como mecanismo de ação na analgesia induzida pelo exercício em indivíduos sadios e atletas. Esse mecanismo também parece agir na população com dor crônica, embora haja controvérsias. Finalizamos o artigo com considerações clínicas para a prescrição do exercício para a população com dor crônica.Palavras-chave: dor crônica, atividade física, mecanismos endógenos de controle da dor.
ABSTRACTChronic pain is defined as persistent pain beyond normal tissue healing time. Chronic pain syndromes have a considerable impact on functional capacity, resulting in disrupted work and social activities; therefore, the impact of these syndromes affect the society at large and at a high economic cost. In contrast to rest and pharmacological treatment, multidisciplinary programs with exercises have shown to improve pain and function in chronic pain patients. A number of studies reported analgesia induced by exercise; however, the neurological mechanisms involved are not known yet. To explore this phenomenon, we describe endogenous pain control relating some studies on general population and chronic pain subjects, and we conclude this paper with some clinical consideration to determine optimal intensity of exercise to produce hypoalgesia.
Keywords
INTRODUÇÃOA dor é uma percepção subjetiva, desagradável e vital. A interpretação do estímulo nocivo protege o organismo através desse sinal de alarme denominado dor (1) . Num contexto temporal, a dor pode ser classificada como aguda ou crônica. A dor aguda está associada a lesão do organismo, é de curta duração e desaparece com a cicatrização dessa lesão, por exemplo dor pós-operatória. A dor crônica, por sua vez, é persistente ou recorrente e não está necessariamente associada a uma lesão no organismo. A cronificação da dor pode ser de causa desconhecida. Em sua classificação, consideram-se crônicas aquelas em que o sintoma se mantém além do tempo fisiológico de cicatrização de determinada lesão, ou por permanecer por mais de três meses (2)(3)(4) , por exemplo, as síndromes dolorosas como lombalgias crônicas ou fibromialgia.Estima-se que, mundialmente, 80% das consultas médicas devamse à presença da dor (5) . Um recente estudo brasileiro demonstra que 75% dos pacientes que consultam serviços públicos de saúde relatam a presença de dor crônica (6) . A alta prevalência da dor crô...