Dinâmicas da experiência musical: música, movimento, entendimento e composição

Abstract

Nesse artigo serão abordadas cinco possíveis feições para a relação entre música e movimento que mobilizam conceitos e pressupostos das metáforas conceituais e dos esquemas imagéticos baseados na experiência corporal. As principais elocuções sobre do tema serão tecidas a partir de uma literatura emergente que aplica a noção de esquemas imagéticos, as metáforas conceituais, investigações oriundas das neurociências, mecanismos da memória e a noção de gesto para possibilitar insights e desdobramentos nas práticas musicais. O contexto de música e movimento permite descortinar estratégias de entendimento musical, além de oferecer um rico campo para experimentações no domínio da criação. Nesse sentido, abordei na minha pesquisa de doutorado (no PPGMUS/UFBA) a relação entre música e movimento no contexto da Capoeira Regional, onde não há a separação conceitual entre os domínios. Essa interação foi operacionalizada a partir da inferência em campo de quatro conceitos que mobilizam a relação entre música e movimento para a composição musical: ciclicidade, incisividade, circularidade e “surpreendibilidade”.

Converse: discutindo um processo colaborativo e suas bases cognitivas

“…Finalmente, os processos de fato colaborativos são aqueles em que as instâncias de decisão são compartilhadas entre os atores envolvidos na criação, de modo que todos os envolvidos se sentem efetivamente contemplados no processo. ⁵ Trata-se de uma obra colaborativa composta por Guilherme Bertissolo e Lia Sfoggia no contexto da pesquisa de doutorado do primeiro (Bertissolo, 2013), em resposta às noções inferidas no mesmo contexto cultural, a capoeira regional, pelo viés da relação entre música e movimento. ⁶ O processamento eletrônico em tempo real de som e vídeo foi realizado através do software PureData.…”

“…Sob essa perspectiva, compor (música) é pesquisar. Bertissolo (2016) também abordou esta suposta tensão entre os modos criar e pesquisar, entre teorias e práticas, pelo viés da composicionalidade. Sua proposição ocorreu pelo viés da intencionalidade e intersubjetividade nos processos de teorização, criação e entendimento em música.…”

Performance musical e o corpo: sobre os gestos expressivos “acompanhantes”

“…Zavala (2012) destaca definições que circulam o termo, como expressão, intencionalidade, postura e atitude (p.17), todos permeados pela ideia de movimento. Bertissolo (2013) também oferece grande discussão acerca do termo (p.26-35) embasado em teorias da cognição incorporada.…”

“…Esta interação em forma de ação já foi examinada sobre diversas óticas e abordagens metodológicas, das quais incluem-se duas neste artigo: a cognição incorporada (Johnson, 1987) e a abordagem ecológica (Gibson, 1979;Windsor & de Bézenac, 2012). Essas e outras questões acerca de música e movimento já foram amplamente exploradas nas teses de Bertissolo (2013) e Zavala (2012), mas continuam sendo propulsoras para a musicologia. No presente artigo enfocaremos especificamente o corpo como objeto, como propulsor e centro da interação do músico com o fazer musical, e de que forma o corpo influencia a performance e os tipos de gestos que fazem parte da prática instrumental, ressaltando e focando em um gesto específico: o gesto expressivo ou intencional.…”

Composição e análise de uma ópera cômica: investigando a construção do sentido musical

“…Inicia com a apresentação do libreto de A Sonâmbula de Machado de Assis, e, na segunda seção, descreve o processo composicional da ópera A Sonâmbula, segundo princípios de uma semântica formalista (OPC1), com base nos trabalhos de Benward e Saker (2003), Feldstein (1998), Med (2017), Reybrouck (1998;2001) e Schoenberg (2000). Na terceira seção descrevo o processo composicional da "mesma" obra, à luz de dispositivos da cognição musical incorporada (OPC2), tendo como arcabouço teórico-metodológico os trabalhos de Bertissolo (2013;2017), Brower (1998;2008), Johnson e Larson (2003), Larson (1998;2002;2006;2012), Nogueira (2004;2007;2009;2015;2016;2018) e Saslaw (19961997. Em seguida, discuto as contribuições da aplicação de conceitos da semântica cognitiva incorporada, comparando-as aos processos da semântica formalista tradicional aqui aplicado à composição da ópera em foco.…”