DINÂMICAS SOCIOECONÔMICAS DE FAMÍLIAS ASSENTADAS E SUAS RELAÇÕES COM A AGROBIODIVERSIDADE EM ÁREAS DE REFORMA AGRÁRIA/ Socioeconomic factors and their relationships with agrobiodiversity in areas of agrarian reform in Brazil/ Dynamiques socio-économiques et leurs relations avec l’agrobiodiversité dans les zones de réforme agraire au Brésil

Abstract

O artigo veicula uma análise socioeconômica de assentamentos rurais no Extremo Sul da Bahia e no Pontal do Paranapanema, com foco na agrobiodiversidade associada à mandioca. Entrevistas semiestruturadas foram conduzidas com 15 agricultores em 10 assentamentos na Bahia e 11 agricultores em 7 assentamentos em São Paulo. Os índices socioeconômicos destas regiões estão entre os mais baixos de seus respectivos estados, com maior vulnerabilidade na Bahia. Cerca de 60% dos filhos dos agricultores no Pontal residem nos assentamentos, dos quais dois terços trabalham na agricultura. Na Bahia, 20% dos filhos estão no assentamento, dos quais 75% atuam em atividades agrícolas. Com população mais idosa, os assentamentos da Bahia apresentam maior diversidade de mandioca, cuja produção abastece as casas de farinha artesanais. As dinâmicas culturais em torno das atividades da produção de farinha nos assentamentos constituem um elemento-chave na manutenção da agrobiodiversidade regional. A produção de mandioca no Pontal, por outro lado, atende à demanda de fecularias industriais fora dos assentamentos, o que estimula o cultivo de poucas variedades que atendem o padrão das indústrias. O alinhamento à agroecologia nos assentamentos da região baiana tem sido fundamental para a valorização da diversidade agrícola, enquanto o alinhamento à agricultura industrial na região paulista enfraquece a diversidade agrícola e as estruturais socioculturais de manutenção da agrobiodiversidade. Como citar este artigo:MARCHETTI, Fábio Frattini; SANTOS, João Dagoberto dos; MARQUES, Paulo Eduaro Morizzi. Dinâmicas socioeconômicas de famílias assentadas e suas relações com a agrobiodiversidade em áreas de reforma agrária. Revista NERA, v. 23, n. 55, p. 191-2017, set.-dez., 2020.

Biocultural Elements and Multifunctionality of Cassava Flour Production in Agrarian Reform Settlements in the Extreme South of Bahia, Brazil

“…All the varieties of cassava grown in ve settlements had been inventoried in a previous study (Marchetti et al 2020a), and information about name, year of acquisition, origin, agronomic characteristics, and uses of each variety were collected in loco by semi-structured interviews with farmers locally indicated as specialists in cassava cultivation. Homonyms were registered in the eld and later identi ed by researchers as different varieties.…”

“…On the other hand, the region is characterized by low socioeconomic development rates (Marchetti et al, 2020a), and the inclination towards carrying out traditional agricultural activities, such as the production of cassava our, could represent an adaptation to the context of few opportunities for income generation.…”

“…The artisanal manufacture of cassava our mobilizes a cultural and biological structure developed over generations of rural workers supported by biocultural elements grounded in traditional indigenous wisdom, and which has been continuously re-signi ed by successive generations of rural workers (Toledo & Barrera-Bassols, 2015). It is a typical activity in agri-food culture in the Extreme South of Bahia, in Brazil, where the consumption of cassava our is a daily habit, both in the countryside and in the city (Marchetti et al, 2020a). Flour manufacture starts in the elds, where the selection and management of local varieties of cassava (Manihot esculenta Crantz), known for their appropriate and desirable characteristics, is carried out.…”

“…In the Extreme South of Bahia, there are dozens of cassava varieties adapted to the speci c ecological and cultural context. The region stands out for the high ethnobotanical, genetic and traditional knowledge associated with this native South American species from the family Euphorbiaceae (Marchetti et al, 2020a).…”

Agroecologia

“…São mais de 250 povos indígenas originários Essa evidente sociodiversidade apresenta territorialidades compostas por uma multiplicidade de expressões, sobretudo fundiárias, as quais originam amplos tipos de territórios com suas particularidades socioculturais (LITTLE, 2004). Quando referentes aos sistemas agroalimentares, essas singularidades perpassam pelo manejo de quintais e sistemas produtivos biodiversos, como os da agricultura praticada através de princípios tradicionais e agroecológicos, a exemplo das roças de caboclos amazônicos (MARTINS e OLIVEIRA, 2009) e de assentamentos rurais da reforma agrária em diferentes regiões brasileiras (MARCHETTI et al, 2020b).…”