Discute-se a base de construção do conceito de risco, a partir da descrição do modelo de inferência causal de Rubin, desenvolvido no âmbito da estatística aplicada, e incorporado por uma vertente da epidemiologia. A apresentação das premissas da inferência causal torna visível as passagens lógicas assumidas na construção do conceito de risco, permitindo entendê-lo "por dentro". Esta vertente tenta demonstrar que a estatística é capaz de inferir causalidade ao invés de simplesmente evidenciar associações estatísticas, estimando em um modelo o que é definido como o efeito de uma causa. A partir desta distinção entre procedimentos de inferência causal e de associação, busca-se distinguir também o que seria a dimensão epidemiológica dos conceitos, em contrapartida a uma dimensão simplesmente estatística. Nesse contexto, a abordagem dos conceitos de interação e confusão toma-se mais complexa. Busca-se apontar as reduções que se operam nas passagens da construção metodológica do risco. Tanto no contexto de inferências individuais, quanto populacionais, esta construção metodológica impõe limites que precisam ser considerados nas aplicações teóricas e práticas da epidemiologia.
Risco. Inferência. Causalidade. Modelos de risco proporcionais.
IntroduçãoUma questão considerada fundamental na epidemiologia é a conceituação e operacionalização metodológica da causalidade. Identificar causas é uma das maneiras do pensamento científico abordar a explicação das origens de um fenôme-no. A causa seria um agente eficaz, e desvendá-la garantiria um conhecimento maior a respeito do fenômeno estudado, na medida em que é possível intervir sobre um efeito quando se remonta à sua causa.A causalidade foi trabalhada na epidemiologia, a partir da busca da causa verdadeira e específica da doença. Essa abordagem ganhou legitimidade com a identificação de agentes específicos responsáveis pela transmissão de doenças infecciosas. No entanto, a partir da necessidade de contornar a "ignorância" a respeito dos processos causais das chamadas doenças não transmissíveis ou crônico-degenerativas, o tratamento conceitual e metodológico da causalidade deslocou-se para a quantificação do risco. A busca da identificação de fatores de risco numa rede de múltiplas causas Separatas/Reprints: