Em consonância com as práticas sociais não virtuais, as interações nos ambientes digitais podem consolidar discursos que refletem solidariedade, justiça social e dignidade humana, mas também o contrário disso, como reforço à desigualdade social, e construção de ódio e desinformação. Este artigo propõe uma análise, sob a perspectiva pragmática, de uma publicação do presidente da República brasileiro, Jair Messias Bolsonaro, na rede social Facebook, em 8 de julho de 2020, um dia após o anúncio de seu teste positivo para covid-19, e dos comentários realizados na postagem. Para isso, baseamo-nos na elaboração dos enquadres e footing (GOFFMAN ([1979] 2002), bem como nas representações socialmente construídas pela quebra das máximas conversacionais, propostas por Grice (1982). Apoiamo-nos nas ferramentas da ciência de dados e na Análise do Discurso Digital (PAVEAU, 2014, 2017) para analisar a linguagem em seu ambiente/contexto nativo on-line, inclusive com as informações do algoritmo.Constatamos, pois, que os enquadres de Jair Bolsonaro revelam uma produção discursiva que prioriza aspectos não sociais e legitimam um desprezo pelos cuidados sanitários durante o período da pandemia e essa circulação e da ocupação discursiva no ambiente digital é corroborada pelos interlocutores na postagem em análise.