RESUMO -A psicologia evolucionista propõe uma investigação sobre as origens e os propósitos das habilidades cognitivas que constituem a cognição social humana. Este artigo procura apresentar a teoria do contrato social como um modelo evolucionista para o estudo de mecanismos cognitivos associados às trocas sociais e da cooperação, tais como: detecção de trapaça, memória de faces, senso de justiça, influência da informação e conhecimento prévio, vigilância e teoria da mente que regulam, fundamentalmente, nossas interações sociais. Conclui-se que um olhar evolucionista para a mente humana gera hipóteses, enquanto a teoria dos jogos fornece métodos para testá-las, nos auxiliando a compreender a natureza humana. Seres humanos são seres essencialmente sociais. É mínima a chance de um bebê humano sobreviver caso ele não receba atenção e cuidado de seus coespecíficos (Hyde, 2005;Poindron, 2005). Estudos na área de desenvolvimento mostram que os infantes primatas nascem com uma série de características físicas e comportamentais que os predispõe à interação social e à formação de vínculos afetivos com os seus cuidadores (Fantz, 1963;Hrdy, 2001). Da mesma forma, é quase nula a chance de um ser humano adulto sobreviver sem qualquer contato com outro indivíduo da sua espécie. As interações sociais, por sua vez, são mediadas por um repertório amplo de funções cognitivas, tais como memória, raciocínio e linguagem (Cosmides & Tooby, 1992;Pinker, 2004).
PalavrasConsideremos uma situação específica, na qual o indiví-duo coloca em prática esse repertório cognitivo: a escolha de sujeitos para compor um grupo de trabalho escolar. Trabalhando em equipe, os estudantes exercitam uma série de habilidades. Ao mesmo tempo em que estudam o conteúdo das disciplinas, eles aprendem a avaliar os colegas. Por exemplo, caso um aluno não coopere na realização das atividades coletivas, é bem provável que a memória dos indivíduos do grupo seja ativada e favoreça o ostracismo do aluno que não cooperou do próximo trabalho. Essa decisão pode ser tomada porque os integrantes do grupo apresentam habilidades cognitivas inerentes à mente humana e especí-ficas para: identificar e reconhecer o indivíduo; relembrar dos diversos aspectos históricos de interações que ocorreram entre o aluno não cooperador com o grupo; e avaliar que não é justo um aluno receber um benefício por um trabalho que não lhe custou nada, dentre outras.Até meados do século XX, as escolas tradicionais da psicologia postulavam que esse repertório cognitivo era aprendido com a experiência. Durante o tempo de supremacia do behaviorismo, de 1913 a cerca de 1960, todo comportamento era concebido como aprendido e capaz de ser modificado através do r-eforço skinneriano, por exemplo. Em contraposição, nessa época, surgiram também trabalhos a respeito da precedência das influências genéticas e das tendências herdadas sobre as respostas condicionadas (Pinker, 2004). A afirmação behaviorista de que todo o comportamento é aprendido foi contestada pelo trabalho de treinamento animal dos Brelands, d...