Duas décadas depois das “Novas perspectivas na reconstituição do modo de vida dos sambaquieiros: uma abordagem multidisciplinar”

Abstract

Profundas mudanças teóricas e metodológicas marcaram a Arqueologia de Sambaquis no início dos anos 2000. Projetos interdisciplinares e abordagens pós-processualistas levaram ao reconhecimento dos sítios como monumentos funerários e marcadores de paisagem. O artigo “Novas perspectivas na reconstituição do modo de vida dos sambaquieiros: uma abordagem multidisciplinar” sintetizou o conhecimento da época e abriu o debate sobre cultivo de vegetais nessa sociedade. Nos vinte anos seguintes as pesquisas se multiplicaram, desenvolvendo questões e inaugurando novas rotas de estudo. O presente artigo propõe uma atualização dos temas abordados e sintetiza as pesquisas mais atuais, com foco em aspectos como padrão de assentamento, processos de formação, organização social, cronologia, paisagem, dieta, economia, modos de vida, processo saúde-doença, tecnologia e domínio simbólico.

Modelagens arqueológicas no litoral sul catarinense: sambaquianos na região da Lagoa de Imaruí

“…A região do litoral sul de Santa Catarina é uma importante área para os estudos arqueológicos brasileiros e que tem sido, ao longo dos últimos 30 anos, alvo intensivo de pesquisas por diversos arqueólogos (Scheel-Ybert et al 2003;DeBlasis et al 2007;Gaspar et al 2008;Klokler 2008;DeBlasis & Gaspar 2009;Milheira 2010;Assunção 2010;Belem 2012;Fish et al 2013;DeBlasis et al 2014;Villagran 2014;Di Giusto 2017;Klokler et al 2018;Cardoso 2019;Fidalgo et al 2021;Merencio 2021;DeBlasis et al 2021;Scheel-Ybert et al 2023). Estas pesquisas, no entanto, se concentram em sua maioria na porção central do complexo lagunar.…”

“…A ideia de produção coletiva de recursos também é reforçada pela própria distribuição espacial igualitária de núcleos/comunidades sambaquianas ao redor das lagoas(DeBlasis et al 2007(DeBlasis et al , 2021 e também de outros ambientes, como é o caso da foz do Rio d'Una. Conforme discutemScheel-Ybert et al (2023), o compartilhamento e a produção coletiva de recursos na sociedade sambaquiana também seria uma forma de reafirmação de laços e manutenção de identidade cultural destas pessoas. produção coletiva dos mais diversos tipos de recursos.…”

“…produção coletiva dos mais diversos tipos de recursos. Conforme discutido em outras publicações(Klokler 2008(Klokler , 2012(Klokler , 2017ab;Gaspar et al 2011;Fish et al 2013;DeBlasis et al 2021;Scheel-Ybert et al 2023) podemos afirmar que a compreender o que o autor quer dizer ao afirmar que os modelos são, na verdade, uma forma de mapa que nos orientam através de territórios desconhecidos e o mapa, por mais fiel e detalhado, jamais deve ser confundido com o território real (McGlade 2014: 15). Na literatura arqueológica sobre modelos baseados em agentes temos como principal exemplo os trabalhos feitos em Long House Valley no Arizona, para as populações Anasazi, com modelos complexos e repletos de dados diversos sobre paleoclima, demografia e cronologias de grande detalhamento.…”