RESUMO:Este trabalho explora para os ritmos da fala e da escrita uma proposta apresentada por Pierre Sauvanet para caracterizar a experiência rítmica a partir de três balizas: periodicidade, estruturação e movimento. A periodicidade refere-se à ocorrência regular de uma unidade mínima, a estruturação refere-se à constituição in actu de agrupamentos bem como ao destaque de uma unidade em relação a outros, enquanto o movimento refere-se à quebra de expectativa dessas duas últimas balizas. As três balizas são examinadas considerando fala e escrita como sistemas autônomos submetidos às operações perceptivas respectivamente da audição e da visão. As congruências entre os dois ritmos se concentram na equivalência de operação das três balizas enquanto a não congruência se limita à escolha da unidade mínima para a baliza da periodicidade, para além das diferenças de meio de manifestação da fala e da escrita. PALAVRAS-CHAVE: ritmo da fala; ritmo da escrita; ritmização; audição; visão.ABSTRACT: This work develops a proposal presented by Pierre Sauvanet to characterize the rhythmic experience in both speech and writing by means of three constraints: periodicity, structuring and movement. Periodicity refers to the regular occurrence of a minimal rhythmic unit, structuring refers both to on-the-fly grouping formation and to highlighting of a unit in relation to others, whereas movement refers to breaking the subject's expectations as regards periodicity and structuring. The three constraints are presented and illustrated by some examples which reveal the autonomy of writing and speech systems in relation to each other. This is possible due to the autonomy of visual and auditory perception systems. Commonalities between the two systems rely on the equivalence of the operations that the constraints impose to the perceiving subject, whereas differences rely mostly on the minimal rhythmic unit. KEYWORDS: speech rhythm; writing rhythm; rhythmization; audition; vision.
IntroduçãoSerá que ao escrevermos "ritmo da escrita" e "ritmo da fala" estamos nos referindo a uma mesma experiência rítmica? Caso as experiências sejam distintas, por que empregar a mesma palavra "ritmo" ao se referir à escrita e à fala? Haveria critérios de identificação ou circunscrição dos fenômenos rítmicos que nos permitissem relacionar ou buscar uma congruência entre a experiência rítmica na fala e a experiência rítmica na escrita? Este artigo apresenta alguns argumentos fundamentados teórica e experimentalmente que, no seu conjunto, dão elementos de resposta às questões acima.