Neste artigo, discutimos quais pistas a criança utiliza do input para a marcação do pé prosódico (Sw) ou (wS) em uma língua com algoritmo acentual não transparente, como é o caso do português brasileiro. Para tanto, quatro características foram investigadas: a exposição aos padrões acentuais da língua alvo (fala adulta e fala dirigida à criança), a distribuição das vogais conforme a tonicidade e a posição na palavra (pré e pós-tônicas), a duração das vogais em sílabas átonas e as palavras familiares. Contrastamos a análise dessas pistas no português brasileiro a outras cinco línguas: português europeu, inglês, espanhol, holandês e hebraico moderno. Para a distribuição dos padrões acentuais, observamos que todas as línguas, exceto o hebraico, apresentam maior distribuição do acento penúltimo; contudo, apesar de o padrão paroxítono ser mais do que o dobro na fala adulta e na fala dirigida à criança, esta segue diferente padrão no PB, o que evidencia o não uso dessa pista pela criança. Para o quadro vocálico, constatamos que só o português apresenta diferença no número de vogais em sílabas pré e pós-tônicas, caracterizando-se, dessa forma, como pista só nesta língua. Para a duração, verificamos que sílabas pré-tônicas têm maior duração do que pós-tônica no português, sendo que, no inglês e no holandês, o padrão é o inverso; já no espanhol e no hebraico não há diferença entre elas. Para as palavras familiares, inglês, espanhol e holandês apresentam predominância de palavras paroxítonas, semelhante à língua alvo; em contrapartida, o português em suas duas variedades e o hebraico exibem divergência entre o padrão das palavras familiares e da língua alvo. Enquanto assumimos que as palavras familiares não são então pistas para o algoritmo acentual do hebraico, defendemos que as palavras familiares representam o padrão não-marcado do algoritmo acentual em português.