E Quem Disse Que Não É Seu Lugar? Por Um Turismo Democrático E Inclusivo Para Negros E Negras.

Abstract

A partir de provocações teóricas e, tendo como conceito chave a interseccionalidade, este artigo tem como objetivo central discutir criticamente como se dá e são percebidas a presença das pessoas negras no exercício da atividade turística. Parte-se da tese de que a baixa presença de pessoas negras em espaços turísticos no país se deve a práticas interseccionais e estruturantes de gênero, classe e etnia/raça, especialmente nas gêneses da configuração societal brasileira, uma vez que são raras as métricas elaboradas por agências de fomento oficiais que contemplam informações sobre sexo, gênero e etnia/raça autodeclaradas. A natureza metodológica deste texto é de ordem teórico/interpretativa, a partir de seleção de textos que corroboram com o conceito de interseccionalidade. Buscou-se apresentar dados do ano de 2015 e 2016, de agências de fomento de turismo oficiais e da iniciativa privada, para sustentar a tese central defendida, bem como excertos de dados acerca da situação social das pessoas negras no Brasil. Destarte, foram trazidos fragmentos de quatro relatos on-line de pessoas negras envolvidas com o fenômeno turístico, seja como anfitriões de acomodações turísticas, seja como viajantes. Pensar em um turismo democrático e inclusivo aos sujeitos, especialmente àqueles e àquelas pessoas estigmatizadas em razão de sua cor de pele, origem étnica, diversidade de gênero e condições econômico culturais, remete a ter um exercício de coragem individual e coletiva de reconhecer a humanidade nas intersubjetividades postas pelo outro, dialógica e dialeticamente.

Movimentos, Tecnologia e Pessoas Negras: é possível um outro turismo?

“…A resposta perpassa, primeiro, por entender o turismo enquanto um conjunto de práticas relacionadas a um tempo, contexto histórico e práticas/interrelações entre o visitante, a infraestrutura turística oferecida, o destino turístico em si e a comunidade. Significa dizer que, mais além de um entender um turismo enquanto uma face econômica, comumente materializada/priorizada por agências de fomento oficiais, estado e mercado, é preciso pensálo enquanto um saber-fazer, uma epistemologia em movimento (Ferreira & Casagrande, 2018;Moesch, 2002).…”

“…Pensar o turismo enquanto um fenômeno sócio/cultural requer refletir sobre construções e constituições constantes de significados realizados pelos/para os próprios sujeitos, em uma perspectiva interpretativa fragmentada e multi/interdisciplinar. Significa dizer, nesta interpretação posta, que o fenômeno turístico objetiva valorar as experiências individuais e coletivas de cada pessoa, mediante os interesses e influências de cada grupo social envolvido nesta dinâmica: estado, mercado, comunidades e visitantes, onde nem sempre estas relações ocorrem sem maiores conflitos, disputas e/ou rupturas (Ferreira & Casagrande, 2018;Krippendorf, 2001;Moesch, 2002). A interpretação cultural dialética/dialógica 1 aqui é a chave para se pensar em um turismo como fenômeno.…”