Este artigo busca analisar os efeitos de sentido da formulação “mulheres multitarefas”, com o intuito de refletir sobre o movimento de construção e desconstrução de discursos sobre divisão sexual do trabalho. Para tanto, lançamos as seguintes questões: (i) Como transitam os sentidos sobre divisão sexual do trabalho, a partir da qual se classificam as atividades laborativas de acordo com o gênero, numa dada formação discursiva atravessada pela ideologia patriarcal e de classes?; (ii) quais efeitos de resistência promovem a deriva de sentidos naturalizados socialmente? A presente reflexão se apoia na perspectiva teórico-metodológica da análise do discurso pecheutiana, que tem como objeto histórico-ideológico o discurso, cuja materialidade específica é a língua. É a partir do trabalho de descrição e interpretação proposto por essa teoria materialista que buscamos compreender o funcionamento discursivo da formulação “mulheres multitarefas” em circulação na mídia digital, mais especificamente na revista Cláudia on-line. Com base na análise de três sequências discursivas, apontamos que os sentidos de/sobre “mulheres multitarefas” desfilam valores promovidos pelo capitalismo – que encobrem a exploração da classe trabalhadora, por meio da exaltação do trabalho excessivo como indicativo de capacidade intelectual e física –, mas também comportam a possibilidade de resistência.