A síndrome de Down é uma condição genética ocasionada pela trissomia do cromossomo 21. As pessoas com essa condição genética apresentam uma série de alterações no organismo quando se trata da anatomofisiologia. Dentre as características específicas, encontramos: o comprometimento cognitivo, hipotonia da musculatura orofacial, palato duro com alterações morfométricas e atraso no desenvolvimento global, sendo a área da fala/ linguagem a mais comprometida. Os problemas relativos à anatomia do aparelho fonador podem ocasionar comprometimentos no movimento dos articuladores, dificultando a programação motora dos sons da fala que são produzidos com alterações. Essas alterações ocasionam ininteligibilidade de fala, fato este que pode perdurar por toda a vida, dificultando as situações relacionais desse sujeito socialmente. Para compreender as origens dessas alterações de fala, nosso objetivo foi: caracterizar a produção de sons consonantais do português brasileiro de um grupo de jovens-adultos com síndrome de Down e correlacionar as alterações às dimensões do palato duro dessas pessoas. Partindo da hipótese de que as alterações na produção consonantal podem estar relacionadas às características dimensionais do palato duro. Ou seja, quanto menores as dimensões palatais de largura, comprimento e maior a altura do palato, mais alterações na produção de fala. Metodologia: participaram 6 pessoas com síndrome de Down do grupo de intervenção “Fala Down”. A pesquisa foi realizada no Laboratório de Estudos e Pesquisas em Neurolinguística na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. A coleta de dados foi realizada por meio do Instrumento de Avaliação de Fala para Análise Acústica que foi transcrita por três juízes fonoaudiólogos. As alterações foram classificadas como: distorção, substituição e omissão. O julgamento final da produção consonantal dos participantes foi dado pela concordância da maioria dos juízes. Para as medidas dimensionais do palato duro, foram realizadas moldagens dos participantes para obtenção dos modelos em gesso que foram mensurados com paquímetro digital. Pelo coeficiente de correlação de Spearman, com significância (p < 0,05), analisou-se a correlação das alterações de fala com as dimensões palatais. Resultados: as alterações mais prevalentes foram as substituições e as distorções, sendo as distorções com prevalência de 100% de ocorrência nos 6 participantes, e o fone [s] o mais alterado. A substituição apresentou correlação estatisticamente significativa com a dimensão palatal, conforme hipótese do estudo. As relevantes ocorrências de alterações nos fones [d], [z], e [l]-coda e na estruturação silábica [bl] também obtiveram associação estatisticamente significativa com as dimensões palatais. Conclusão: a pesquisa identificou 25,52% de alteração consonantal do total de palavras produzidas pelos participantes. Houve algumas correlações entre as alterações de fala e as dimensões de largura anterior e comprimento do palato duro, como proposto na hipótese, podendo ser, assim, o palato duro um fator que contribui para as alterações na produção consonantal do grupo de pessoas com síndrome de Down estudado. Será necessária a ampliação de pesquisas com um número maior de sujeitos, a fim de que essa possível relação possa ser evidenciada em toda a população com síndrome de Down.