O artigo analisa o processo de construção da paz na República Democrática do Congo iniciado em 2003. Com a mediação de atores internacionais e regionais, os principais beligerantes concordaram com um governo de transição cujo objetivo era conduzir a democratização do país e assegurar a estabilidade. Apesar do novo governo constituído a partir das eleições de 2006, o retorno da violência e da instabilidade minaram os avanços da transição, suscitando o estabelecimento da Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas na República Democrática do Congo (MONUSCO). Mediante revisão de literatura norteada pelos conceitos da virada local nos estudos para a paz e pelas discussões a respeito de sistemas eleitorais, estabelecemos um esquema analítico para o caso sob escrutínio, priorizando o levantamento de dados em relatórios de organizações internacionais e regionais e em estudos apoiados em pesquisa de campo. Argumentamos que os problemas da democratização do Congo, entendida aqui de maneira minimalista e eleitoral, são expressões do fracasso do modelo liberal de construção da paz, sobretudo ao marginalizar as dinâmicas da sociedade local imersa em um ambiente de insegurança e instabilidade política.