Há pelo menos dois séculos são postas em prática políticas públicas na região da Luz que miram as pessoas socialmente desprotegidas que constituem o território. A mobilização das polícias, as ditas forças de segurança pública, as políticas gentrificadoras de “revitalização” urbana e os serviços de saúde são as respostas repetitivamente tentadas para as questões da região da Luz ao longo da história, exatamente onde é a Cracolândia atualmente. Isso ocorre, não por acaso, dado que o discurso explicativo hegemônico sobre as drogas, proibicionista, sustenta que a Cracolândia é um problema de “segurança pública”, de estética urbana ou, menos pior, mas ainda reducionista, de “saúde pública”. O objetivo foi narrar a história das disputas fossilizadasnas camadas abaixo do asfalto da Cracolândia, desde o início da ocupação aos dias atuais. O método é um levantamento narrativo,que sustenta uma cronologia das políticas públicas e fatos ilustrativos que marcam o processo de disputa territorial, em três categorias: a) segurança pública, b) reforma urbana gentrificadora e c) saúde pública. A finalidade é suscitar um debate referenciado no processo histórico. Justifica-se pela necessidade de qualificação da análise do fenômeno da Cracolândia enquanto maior, e talvez mais antiga, cena aberta de uso de crack de São Paulo.