Estudantes de Odontologia cotistas e o instrumental odontológico

Abstract

A Política de Cotas para o ensino superior no Brasil propõe a reserva de vagas para estudantes oriundos de escolas públicas, pretos, pardos, indígenas e de baixo poder aquisitivo. A aquisição do instrumental exigido no curso de Odontologia representa uma dificuldade para a permanência da maioria desses estudantes. O objetivo deste estudo foi conhecer a experiência de cotistas em relação à aquisição e uso dos instrumentais e materiais para as aulas práticas de um curso de graduação em Odontologia. Foi realizada pesquisa de abordagem qualitativa, por meio de entrevistas semiestruturadas, com 16 estudantes de todos os anos do curso, de todas as modalidades de cotas segundo a Lei 12.711/2012, escolhidos de forma aleatória. O tratamento dos dados baseou-se na modalidade temática da Análise de Conteúdo, de onde emergiram três categorias: “Inclusão”, “Exclusão” e “Discriminação”. O apoio da comunidade universitária, família e colegas figura como mecanismo de inclusão, por favorecer a permanência desses estudantes, assim como o programa de empréstimo de instrumental a estudantes de baixa renda dessa Universidade. Por outro lado, o programa também foi considerado fator de exclusão por não oferecer todo instrumental solicitado e alguns apresentarem baixa qualidade. Os entrevistados relataram sofrer discriminação, por pequena parte dos professores, e se sentirem excluídos quando utilizam instrumentos fora do padrão exigido. O desafio para a instituição pesquisada é garantir as adequadas condições materiais para o aprendizado desses estudantes, propor estratégias para a melhoria do programa de instrumental e implementar ações visando à capacitação docente.

Banco de Empréstimo de Instrumentais como política de permanência estudantil na graduação em Odontologia e a sua relevância social para os estudantes cotistas de uma universidade pública baiana

“…[ Resultado semelhante foi constatado em outro estudo realizado em uma Faculdade de Odontologia onde os estudantes cotistas não recebem as listas completas e alguns instrumentos já estão ultrapassados ou estragados 9 . Ressalta-se ainda a contradição que foi possível observar a partir das falas das participantes da presente pesquisa ao relatarem sua opinião sobre a qualidade dos materiais ofertados pela universidade:…”

“…Às vezes pode ser até mais caro, "mas não é o que eu queria" (E5). O mesmo foi observado em outro estudo em que os participantes revelam que o uso do instrumental odontológico cedido pela instituição gerou manifestações de discriminação e incompreensão de alguns poucos professores do curso abordando os discentes de uma forma que os constrangem, falando alto enquanto criticam o instrumental 9 . A forma de distribuição dos materiais e a falta de capacitação das funcionárias responsáveis pela entrega e organização dos mesmos nas três clínicas que compõem o campus da IES da presente pesquisa surgem nos discursos como sendo barreiras importantes para a consolidação do BEI enquanto política de permanência estudantil.…”

“…Em outra IES, de maneira semelhante, os estudantes têm que comprar os insumos e articulam estratégias individuais e coletivas para conseguir o necessário para participar das aulas práticas, e, apesar de todos os esforços da instituição, dos discentes e de seus familiares, essa problemática dificulta a permanência e caracteriza-se como um fator de exclusão 9 . Ao serem questionadas se a política de permanência do curso de Odontologia contribuía para a mantê-las no curso, todas afirmaram que sim.…”

“…Os cirurgiões-dentistas devem dominar a técnica dos procedimentos que somente é adquirida após muita prática com a utilização de materiais, equipamentos e instrumentais específicos da área, sendo um curso oneroso que, em muitos casos, não condizente com a renda familiar de alguns dos ingressantes 8 . As IES brasileiras, frente a essa realidade, buscam a implementação de Bancos de Empréstimos de Instrumentais (BEI) como uma forma de política de permanência estudantil [9][10][11] . A IES na qual a presente pesquisa foi realizada, adquiriu, em 2011, instrumentais odontológicos objetivando contemplar e garantir a permanência de todos os seus estudantes, como uma política universal, que inclui cotistas e não cotistas.…”

Criação do banco de instrumentais odontológicos de uma universidade pública como instrumento democrático na formação em saúde

“…Estudo recente que descreveu a experiência de beneficiários de um programa de empréstimo de instrumental odontológico relatou casos de humilhação e discriminação dos estudantes por parte de professores da instituição de ensino 19 . Esses fatos foram motivados pois os instrumentais tomados de empréstimo estavam fora do padrão exigido por algumas disciplinas, embora em boas condições de uso.…”