Este estudo tem por objetivo refletir sobre as condições nativas para a construção da clínica etnopsicológica em um contexto religioso. Trata-se de um estudo de caso qualitativo desenvolvido em um terreiro de umbanda localizado na cidade de Ribeirão Preto, estado de São Paulo. Neste terreiro, a partir de 2013, foi composto um espaço para a oferta de atendimentos psicoterápicos individuais a cargo de um psicoterapeuta que também realizava pesquisas sobre mediunidade nessa comunidade. Esses atendimentos passaram a ser organizados em função das demandas manifestadas por médiuns e frequentadores do terreiro. Trabalha-se, no presente relato, com a categoria de abertura de caminhos, pressupondo que determinadas condições permitiram a construção e a consolidação da oferta de apoio psicológico utilizando a estrutura do terreiro, serviço este voltado a médiuns e a frequentadores desse espaço ritual. Entre essas condições, destaca-se o incentivo e atuação direta do pai de santo, divulgando a existência do serviço e promovendo encaminhamentos informais para os atendimentos a partir do seu contato próximo com a comunidade, além das menções, trazidas pelos clientes atendidos, a respeito da permissão das entidades daquele local sagrado, consentindo com o apoio psicológico lá realizado. Essas condições são tensionadas como categorias nativas, pressupondo a necessidade de escutá-las e endereçá-las no acontecer da clínica etnopsicológica.