INTRODUÇÃONunca, na história da ciência brasileira, tivemos tantos profissionais trabalhando com nossa fauna sob os mais variados aspectos, no campo e no laborató-rio. Não só os projetos de pesquisadores lotados em universidades públicas e particulares, mas também a iniciativa privada, através da coleta para fins de estudos de impacto ambiental, tem obtido espécimes que terminam por serem preparados e depositados nas mais diversas coleções zoológicas em todo o país. Essas coleções são muito variáveis em escopo, recursos, acessibilidade, qualidade e representatividade geográ-fica e taxonômica. Partindo da premissa de que os profissionais responsáveis por cada uma dessas coleções trabalham para sua conservação e boa utilização, ainda assim existem diferenças importantes entre as coleções, com importantes consequências para as pró-prias e para a melhor utilização do material nelas depositado, que se devem a um fator que nada tem a ver com a dedicação dos zoólogos: o tipo de instituição que abriga cada coleção.Aqui argumentamos que museus, comumente denominados "Museus de História Natural" por conta das tradições europeia e norte-americana que se estabelecem a partir do século XVIII (Jardine & Spary, 1996;Heringman, 2013), se administrados de forma correta e populados por profissionais especializados na área da taxonomia, são as mais adequadas instituições para abrigar coleções zoológicas no longo prazo, na verdade indefinidamente. Instituições universitárias departamentais não estão preparadas para manter coleções por tempo indeterminado, e não estão equipadas para permitir o acesso geral aos materiais zoológicos que abrigam. A razão para tal não está simplesmente no nome da instituição, mas sim em suas distintas missões institucionais, que determinam (ou deveriam determinar) que tipos de profissionais nelas trabalham, a quais regimes de trabalhos devem ser submetidos, e que carreiras os seus profissionais devem percorrer.Embora exista ampla discussão na literatura a respeito dos muitos tipos de pesquisa que se pode desenvolver a partir das coleções de história natural (por exemplo, Lane, 1996;Shaffer et al., 1998;de Vivo, 1999;Miller et al., 2004;Winker 2004;Suarez & Tsutsui, 2004;Gaubert et al., 2006), nada existe formalmente publicado a respeito de como um museu deve atuar frente à pesquisa que permite, que tipo de profissional é mais adequado para gerir essas coleções e se as diferentes estruturas administrativas da academia brasileira se adequam à gestão das coleções. Este ensaio visa fornecer uma reflexão a respeito desses temas.Iniciamos com uma breve descrição dos muitos tipos diferentes de coleções zoológicas que existem em nosso país, e para cada um desses tipos discutimos seus potenciais, necessidades, escopos, acessibilidade