RESUMO: O trabalho é um estudo longitudinal de duas crianças, uma brasileira e uma francesa, e focaliza o desenvolvimento das expressões de negação na fala das duas. Objetiva mostrar que, no início, nas instâncias a que chamamos de “protonegações”, marcadas por gesto e vocalização, são indissociáveis e assumem sentido na interpretação do outro. As funções das primeiras partículas negativas produzidas pela criança foram construídas a partir do sistema de classificação sóciopragmática das negações desenvolvido por Beaupoil-Hourdel (2013). As seguintes categorias são consideradas: rejeição/recusa; expectativas insatisfeitas; ausência/desaparição; proibição/comando; oposição/correção; rogativa negativa; negação epistêmica; negação funcional. Os resultados mostram que a rejeição/recusa é a primeira função a emergir na fala de ambas as crianças, ao passo que a ausência/desaparição é mais tardia. A complexificação progressiva das negações produzidas pelas duas crianças podem depender da inclusão de pronomes pessoais em seus enunciados, bem como da introdução de variações nas partículas negativas utilizadas. Por outro lado, ações e vocalizações infantis auxiliam na delimitação de um todo significativo, mesmo com um léxico bastante restrito.