Contexto: O fenômeno de ouvir vozes está presente em um percentual significativo da população mundial sem necessariamente desencadear sofrimento psíquico. Porém, quando a audição de vozes está atrelada ao saber psiquiátrico hegemônico, produz preconceito e estigma social. No entanto, desde o final da década de 80 do século XX, esse fenômeno vem sendo compreendido pelo Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes como uma variação da subjetividade, produzindo novas abordagens de cuidado, distante das velhas práticas psiquiátricas às pessoas que ouvem vozes. Objetivo: conhecer as interpretações sobre a origem das vozes e as influências que elas assumem na vida do ouvidor. Metodologia: pesquisa qualitativa exploratória, em que foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 14 ouvidores de vozes em um Centro de Atenção Psicossocial no Sul do Brasil no período de abril a maio de 2018. Resultados: emergiram dois temas para discussão: interpretação da origem das vozes e influências que as vozes possuem no cotidiano do ouvidor. Foram encontradas a presença de crenças religiosas e questões sobrenaturais, além da influência das vozes em atividades diárias simples, que geram intenso sofrimento levando ao isolamento social, ansiedade e depressão. Conclusões: o movimento internacional de ouvidores permite que os profissionais da saúde/saúde mental compreendam e tratam os sujeitos que ouvem vozes para além do que diz o saber psiquiátrico, pois os mesmos passam a entender o sujeito a partir das suas narrativas e histórias de vida, o que contribuiu para a criação de estratégias para lidar com as vozes e auxiliar na ressignificação das mesmas.