ResumoAo longo do tempo, a maneira como se entende um determinado assunto passa por modificações através da pesquisa científica. Na maioria das vezes, essas mudanças causam pequenas diferenças na estrutura total do tópico em questão. Outras vezes, entretanto, ocorrem mudanças revolucionárias que não só alteram a compreensão do assunto em si, mas promovem a abertura de diferentes perspectivas que podem desencadear o início de novas etapas de interpretações e de novos caminhos de conhecimento. Exemplo disso foram os estudos de Gregor Johann Mendel que levaram à descoberta de leis da hereditariedade que, por sua vez, revolucionaram a biologia e traçaram as bases da genética. Em algumas situações, as mudanças não só modificam a forma de pensar, mas também têm implicações práticas ao melhorar a qualidade de vida de muitos seres humanos. No seu livro A Estrutura de Revoluções Científicas, Thomas Kuhn se refere às ruturas nessa evolução científica como "mudanças de paradigma", um termo que hoje é usado de uma forma genérica para descrever uma modificação profunda em nossos pontos de referência. O paradigma de que o estágio adulto da Wuchereria bancrofti causava a obstrução do vaso linfático e desencadeava uma reação imunológica inevitável em indivíduos predispostos, provocando a elefantíase, foi substituído pela esperança de que ser infectado não mais significa, necessariamente, ser um potencial portador da forma mais deformante da disfunção linfática. A infecção bacteriana secundária de repetição (semelhante clinicamente à erisipela) é hoje reconhecida como o fator mais importante para a instalação e a progressão do linfedema crônico, nos indivíduos que vivem em áreas endêmicas de filariose linfática. Evitar ou minimizar os episódios agudos bacterianos é um processo factível para a maioria dos habitantes das comunidades endêmicas, através do uso regular de água e sabão: a forma mais simples de higiene já conhecida pelo ser humano.
introDuçãoAinda que novos conhecimentos tenham recentemente substituído dogmas antigos, e outros avanços importantes tenham surgido ao longo dos tempos, a infecção filarial linfática e as suas complicações ainda permanecem endêmicas em 83 países 1 , dentre os quais a Índia tem o maior número de infectados. As Américas Central e do Sul, juntas, são responsáveis por um percentual de 0,3% em relação à população endêmica mundial, e o Haiti se apresenta como o país de maior prevalência. No Brasil, as áreas endêmicas estão localizadas em dois bairros de Maceió (AL) (Jacintinho e Feitosa) 2 e no Grande Recife (Recife, Jaboatão, Olinda, Paulista e Cabo) 3 , sendo Jaboatão dos Guararapes e Olinda consideradas os focos de maior transmissibilidade 4 . Belém do Pará, que já foi considerado o maior foco endêmico do Brasil, parece ter interrompido a transmissão desde a década de 1990 5 .O termo filariose linfática -também conhecida por elefantíase -reúne as filarioses brugiana e bancroftiana, transmitidas por mosquitos. A brugiana é a infecção pelas Brugia malayi e B. timori, encontradas em forma endêmic...