Resumo: A epidemia de HIV/aids tem atingido cada vez mais mulheres em idade reprodutiva, sendo que muitas já são mães ou se tornam mães quando descobrem a infecção. Os estudos revisados indicam que a infecção pelo HIV/Aids pode alterar de muitas formas a experiência da gestação e da maternidade, gerando uma sobrecarga psicológica relacionada ao estigma e ao risco de transmissão para a criança. Apesar disso, pesquisas sugerem que muitas mulheres portadoras do HIV/Aids buscam transmitir uma identidade materna positiva para os filhos e se preocupam intensamente com o futuro deles. Foram encontrados poucos estudos brasileiros sobre aspectos psicológicos da maternidade nesse contexto, em especial a respeito do impacto da profilaxia para prevenção da transmissão vertical sobre a experiên-cia da gestação, do parto e do puerpério. As dificuldades em aderir ao tratamento e a práticas sexuais seguras denotam a falta de atenção às demandas específicas dessas mães, sendo que o foco das políticas de saúde permanece sobretudo dirigido para a criança.
Palavras-chave:Maternidade. Gravidez. HIV/aids. Saúde, 2007). Porém, o cálculo da estimativa média de pessoas infectadas aponta para um número ao redor de 620.000 adultos e crianças atingidos no país (ONUSIDA, 2006). Atualmente, seguindo a tendência mundial, o perfil da doença no Brasil se modificou: observa-se um considerável aumento da transmissão heterossexual do HIV/aids -em especial entre as mulheres -, a pauperização e a interiorização da epidemia (Ministério da Saúde, 2007). Com relação às mulheres, a estimativa é de que existam no Brasil pelo menos 200.000 portadoras do HIV/aids com idade entre 15 e 49 anos (Szwarcwald & Souza Jr., 2006). O maior número de casos de aids registrados no país encontra-se na faixa etária de 20 a 49 anos, representando 86% dos casos entre homens e 81,5% entre mulheres (Ministério da Saúde, 2006a). Com base nesses dados, acredita-se que a maior parte das mulheres portadoras do HIV/aids está em idade reprodutiva, sendo que o aumento das taxas de transmissão materno-infantil do vírus desperta especial preocupação (Ministério da Saúde, 2006a;Szwarcwald & Castilho, 2000). Em função disso, os serviços de atenção à saúde têm concentrado seus esforços na aplicação do protocolo de profilaxia da transmissão vertical recomendado pelo Ministério da Saúde (2006a) gestantes e parturientes soropositivas (Ministério da Saúde, 2006a). Percebe-se que a problemática envolvida na infecção de mulheres pelo HIV/aids incide diretamente, muitas vezes, sobre este importante evento da vida da mulher: a maternidade. Além disso, um estudo populacional realizado em Porto Alegre demonstrou que a infecção pelo HIV/aids aumenta, de maneira preocupante, as chances de institucionalizaçãode crianças infectadas e de crianças não-infectadas tornarem-se órfãs de ambos os pais (Doring, Junior, & Stella, 2005). Esses achados apontam para a seriedade da situação e a necessidade de promover a qualidade de vida e a sobrevivência das mães portadoras do HIV/aids, bem como de intervenç...