O artigo tem por objeto o projeto político do partido português Chega, criado em 2019. Versa, ainda, sobre a possível ocorrência de uma relação entre o legado do salazarismo (1933-1968), referente ao período em que António Salazar (1889-1970) comandou Portugal, com a atual plataforma desta agremiação partidária. O objetivo é analisar se existem consideráveis pontos de convergência com os ideais salazaristas que possam representar uma continuidade das políticas encampadas pelo ditador português e o atual projeto do partido, ou se o Chega é uma força de extrema-direita sem ligação com o ideário de Salazar. Qualitativo e exploratório, o artigo utilizar-se-á de fontes primárias produzidas pelo partido e de fontes secundárias, como artigos científicos, livros e matérias jornalísticas. A questão que norteia esta investigação é: que elementos permitem considerar o Chega como um herdeiro de ideias salazaristas e/ou distanciá-lo desta perspectiva dentro da realidade política portuguesa? Conclui-se, portanto, que o Chega não pode ser necessariamente identificado, ao menos no presente momento, como um herdeiro do salazarismo, embora o projeto de revisão constitucional e de reforma do Estado propostos pelo partido remetam diretamente às propostas de Salazar que levaram à criação do Estado Novo e à extensão do regime autoritário em Portugal até o ano de 1974.