Buscamos compreender as atividades de trabalho doméstico e de cuidado desenvolvidas por mulheres mães de crianças com a síndrome congênita de Zyca vírus (ou microcefalia). Ancorados na perspetiva ergológica, realizamos um estudo com a participação de nove mães de vítimas da epidemia de Zyca que nasceram com deficiência. Todas as participantes eram do nordeste brasileiro, com média de 28 anos e, em sua maioria, eram negras e com baixa escolaridade. Os resultados revelam que essas mulheres possuem um conjunto de tarefas a desempenhar que extrapola as atividades corriqueiras da maternidade convencional, o que exige um saber-fazer que vai se constituindo na prática, na interação com profissionais da saúde e com outras mães que vivenciam experiências semelhantes. Os achados endossam o debate sobre o trabalho de cuidar, questionado o mito da sua não qualificação e repondo-o como um fazer complexo, que demanda mobilização e inteligência para a sua realização e gestão cotidiana.