O etnoturismo apresenta-se como uma alternativa econômica viável para os povos indígenas, por propiciar a valorização de sua identidade étnica e o uso de seus territórios em uma perspectiva conservacionista. Para isso, é necessário que seu processo de planejamento considere a proteção, a autonomia e o protagonismo desses grupos sociais tradicionais, como preconiza a IN nº 003/2015/FUNAI. Acreditamos que os custos socioambientais do turismo podem ser mitigados nesse processo e, para isso, é fundamental revisitar a epistemologia do fenômeno e propor novos caminhos para significar o turismo nesses territórios, considerando ser viável trazer a discussão sobre os possíveis contributos da inserção da atitude metódica terapêutica e dialógica ancorada em Ludwig Wittgenstein, aliada à teoria desconstrucionista de Jacques Derrida, para o segmento turístico em tela. Desse modo, propusemo-nos neste estudo teórico-propositivo a refletir sobre os usos/significados do planejamento do etnoturismo em terras indígenas a partir da terapia filosófica wittgensteiniana, tendo como procedimentos metodológicos a pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, utilizando-se das pesquisas bibliográfica e documental para a obtenção de dados, e recorrendo à técnica de análise de conteúdo e à própria atitude metódica terapêutico-desconstrucionista wittgensteiniana para as inferências do estudo. Como principais resultados, foi possível perceber que a utilização da atitude metódica terapêutica-desconstrucionista wittgensteiniana, como ferramenta filosófico-reflexiva, permite inovar na análise e discussão de resultados de pesquisas qualitativas, por meio da disposição de instrumentos flexíveis e dinâmicos, como o uso de analogias, metáforas e de diálogos ficcionais, que permitem a aproximação entre os rastros da teoria e os diversos jogos de linguagem que a compõem, a partir da ótica dos distintos grupos socioculturais que mobilizam essa linguagem. Além disso, identificamos que o uso da terapia filosófica wittgensteiniana mostra outra maneira de realizar pesquisa em turismo, embora com o mesmo rigor científico de pesquisas tradicionais, especialmente em comunidades indígenas que se propõem a desenvolver o segmento de etnoturismo em seus territórios, por evidenciar as práticas culturais subjetivas que mobilizam os usos/significados do fenômeno turístico para esses grupos socioculturais e, assim, desconstruir, sob o prisma derridiano, modelos de planejamento turístico padronizados que não contemplem suas singularidades.