Feminismo e desigualdade: uma análise materialista das relações de opressão-exploração das mulheres

Abstract

Este artigo busca analisar a desigualdade social entre os sexos e algumas de suas expressões no mundo do trabalho. Tais questões são discutidas com base no método materialista histórico dialético, orientado pela teoria marxista e pelo feminismo materialista francófono. O debate busca realizar uma análise crítica das expressões do idealismo no campo dos estudos sobre mulheres. Analisamos correntes teóricas que abordam as “desigualdades de gênero” e argumentamos em defesa de uma concepção materialista das relações sociais de sexo. Concluímos que a desigualdade entre os sexos tem base material na história, mediada pelo imbricamento dialético das relações sociais de sexo, raça e classe. As desigualdades no mundo do trabalho evidenciam a necessidade de uma análise que considere esta imbricação para apreender as formas contemporâneas de exploração-dominação.

Mulheres E O Trabalho Terceirizado De Higienização E Limpeza Na Pandemia De Covid-19

“…O trabalho feminino, no contexto precário, é atravessado por desigualdades econômicas, sociais e opressões (Cisne & Ferreira, 2021;Nielsson & Pinheiro, 2018). No Brasil, estudos apontam a dificuldade de inserção feminina no trabalho formal (Leite & Salas, 2015), desigualdade salarial (Furno & Gomes, 2015) e acúmulo do trabalho assalariado com o trabalho doméstico (Dantas & Cisne, 2017;Medeiros & Pinheiro, 2017).…”

“…Nesta perspectiva, o trabalho feminino é analisado através do método históricodialético, que imbrica a discussão não apenas de classe social, mas também de raça, classe e de sexo na exploração do labor feminino. (Cisne & Ferreira, 2021;Dantas & Cisne 2017).…”

“…Esta vertente de pesquisadoras foi responsável pela produção de categorias que ajudam a compreender a exploração do trabalho feminino em sua versão assalariada e doméstica, incoporarado na categoria divisão sexual do trabalho (Cisne & Ferreira, 2021;Hirata & Kergoat, 2007;Hirata & Kergoat, 2008;Nogueira & Passos, 2020). A gênese da divisão sexual do trabalho centra-se no patriarcado e na sua habilidade de compor as relações de gênero de forma hierarquizada.…”

Exploração, dominação e opressão da mulher trabalhadora nas esferas de produção e reprodução social

“…Dessa forma, mesmo que nas três últimas décadas tenha se visto o crescimento da participação da mulher no mercado de trabalho, isso acontece nesse contexto de precarização e flexibilização, de financeirização da economia, no qual a organização política dos trabalhadores se encontra fragilizada (CISNE & FERREIRA, 2021). Embora, segundo Nogueira (2010), tenha sido também durante os anos 70 que vimos o aumento da organização feminina na estrutura sindical, na organização política e nas lutas de classes, além do enfrentamento do discurso conservador que entendia a maternidade como destino natural da mulher, os anos 90 confirmaram de maneira ainda mais definitiva que a mundialização do capital traz efeitos complexos e contraditórios que se refletem de maneira desigual no emprego masculino e feminino.…”

“…"Ampliação e precarização do emprego feminino constituem uma dinâmica contraditória que expressa a manutenção de rígidas fronteiras da divisão social e sexual do trabalho sob a ordem capitalista e patriarcal." (CISNE & FERREIRA, 2021).…”