Após o reconhecimento social, a violência doméstica tem adquirido progressivamente uma expressão significativa nas estatísticas criminais no nosso país. Paralelamente, atendendo aos elevados custos que habitualmente estão associados a esta experiência (e.g., saúde física e psicológica), a actuação de profissionais especializados nesta área foi assumindo cada vez mais relevância, constituindo-se a mulher vítima como um dos principais alvos da intervenção. Nesse contexto, assistiu-se nos últimos anos ao desenvolvimento de diferentes modalidades psicoterapêuticas dirigidas a essa população, entre as quais a intervenção em grupo. O objectivo deste trabalho consiste, pois, em sistematizar o conhecimento actual sobre a eficácia da intervenção em grupo com mulheres vítimas desse tipo de violência, reflectindo criticamente sobre as suas potencialidades. Após uma revisão da literatura internacional (e.g., Cox & Stolberg, 1991;McBride, 2001;Rinfret-Raynor & Cantin, 1997;Tutty, Bidgood, & Rothery, 1993), constata-se que essa é uma das mais comuns modalidades de intervenção facultadas às vítimas, revelando-se útil e com grande impacto junto dessas mulheres (e.g., Trimpey, 1989, citado por McBride, 2001Tutty et al., 1993). Finalmente, a partir dos estudos disponíveis, apontamos os principais desafios no desenvolvimento de estudos empíricos neste contexto, bem como algumas implicações práticas para a implementação de intervenções em grupo com esta população.
Palavras-chave: Estudos de eficácia, Intervenção em grupo, Mulheres vítimas, Violência doméstica.
INTRODUÇÃOA violência doméstica, durante muitos anos, permaneceu oculta na privacidade das famílias. No entanto, desde a década de setenta, diversos olhares têm sido lançados sobre o fenómeno, transformando-o num problema à escala mundial. Desde então, passou a ser objecto de investigação científica e motivou a definição de políticas públicas para a combater.No nosso país, foram vários os factores que concorreram para esse crescente reconhecimento social do fenómeno e para que este assumisse progressivamente um lugar de relevo na sociedade em geral. Em 2007, um inquérito à população revelou uma prevalência de 38.1% de violência contra as mulheres (Lisboa, 2008). Além disso, tal como no inquérito análogo de 1995, os resultados de 2007 revelaram que a violência mais prevalente é a psicológica (53.9%), seguida da violência física (22.6%) e da violência sexual (19.1%). O local de maior risco para a ocorrência de violência persiste em ser a própria habitação e o marido continua a ser maioritariamente o
79A correspondência relativa a este artigo deverá ser enviada para: Marlene Matos, Escola de Psicologia (EPsi),