Este estudo propõe uma primeira leitura do conjunto dos sete “Fragmentos” narrativos de Almada Negreiros, publicado apenas em 2002 na colecção das suas Ficções. Descentrando a atenção oferecida aos textos mais proeminentes e debatidos da obra do autor, adopta-se uma abordagem mista que combina, por um lado, uma revisão dos filões principais da crítica do fragmento e das formas breves, e, por outro lado, uma leitura próxima dos textos aqui considerados. Analisando a criação de seres e objectos textuais ao longo destas ficções fragmentárias, conclui-se que a proporção inversa — mais do que a lacuna ou a elipse habitualmente invocadas — é o conceito primordial na ideia de fragmento para Almada. Este conceito é alegorizado naqueles seres e objectos metaliterários enquanto figura e performance, isto é, demonstração em acto, da sua própria teoria e, por extensão, da teoria da ficção do autor.