ResumoVários estudos apontam para a pluralidade dos sistemas de cuidados para lidar com a doença e neles integram o sistema profissional, popular e alternativo (inclui o complementar e o tradicional). Qual a sua configuração particular em cada sistema cultural é a questão norteadora das duas pesquisas efectuadas. O objectivo deste artigo é o de perceber como se lida com a doença mental, analisando os itinerários terapêuticos que se constroem entre sistemas de cuidados plurais, caracterizando em particular o recurso à medicina tradicional. A análise dos dois estudos (um efectuado na região Norte, outro em Lisboa) permitiu-nos interpretar essas práticas e problematizar os factores socioculturais que determinam e explicam as configurações encontradas. Ambas as pesquisas se enquadram numa metodologia qualitativa. Centrámos a pesquisa na análise dos discursos que obtivemos através de entrevistas semidiretivas, descrevendo-os, interpretando-os e comparando-os. Os resultados apontam para uma pluralidade de itinerários terapêuticos, que se tecem em torno de discursos públicos e privados, onde os sistemas explicativos do recurso à medicina ou às práticas tradicionais encontram sentidos, também eles plurais. As pessoas podem recorrer a estes sistemas de formas diversas, usando um só ou combinando mais do que um, de modo simultâneo ou sequencial, conforme o contexto e as necessidades