“…No processo de pulverização dos partidos hegemónicos, particularmente do Partido dos Trabalhadores, mas também das alternativas de centro e centro-direita, a maior parte das instituições mediáticas brasileiras, historicamente de viés conservador, concentradas em oligopólios familiares, de propriedade cruzada e de baixo paralelismo político (Azevedo, 2006) Por outro lado, o conturbado processo de impeachment que, em 2016, culminou no afastamento de Dilma Rousseff, intensificou o processo de polarização política e o sentimento "antipetista" de camadas importantes da sociedade brasileira, já que, apesar de Dilma Rousseff ter sido afastada devido a crimes de responsabilidade fiscal, foram as várias acusações de corrupção relacionadas com o desvio de dinheiro público da estatal Petrobras para o financiamento ilícito de campanhas eleitorais, que instigaram a cobertura adversária dos media e as manifestações populares pró-impeachment que ocorreram entre 2015 e 2016 (Prior, 2020). Ora, em um contexto de crise de governabilidade, de avanço das investigações da Lava Jato e de manifestações populares anti-política, Jair Bolsonaro, uma figura surgida nas margens do espectro mais radical da direita política brasileira, emerge como a principal alternativa anti-sistema, como o representante legítimo dos "puros", do "cidadão de bem", contra os "impuros", representados pela esquerda e por alguns movimentos sociais progressistas envolvidos na defesa de grupos minoritários.…”