Este artigo investiga coleções museológicas oriundas dos Katxuyana – povo indígena que habita o norte do estado do Pará, no Brasil – e abrigadas em museus na Dinamarca, na Noruega e na Grã-Bretanha. Os objetos que compõem as coleções aqui abordadas foram coletados por duas expedições dinamarquesas realizadas no final dos anos de 1950 que, após serem armazenadas nos museus, acabaram esquecidas tanto por seus curadores como pelos próprios Katxuyana até o ano de 2012, quando foram redescobertas. Este texto baseia-se em meu trabalho com esses objetos, além de materiais de arquivo, fotografias e entrevistas com os Katxuyana e com curadores dos museus. Do ponto de vista teórico, o texto trata coleções como montagens (assemblages). Nesta perspectiva, coleções são entendidas como entidades dinâ- micas constituídas por componentes humanos e materiais cujas relações estão em constante transformação. Tal aspecto processual é também relevante para compreendermos como os valores das coleções museológicas se alteram com o tempo: a relação entre humanos e objetos nessas montagens influencia o que se julga ter valor. Deste modo, o valor de objetos guardados em museus não é intrínseco a estes mesmos objetos, mas emerge nos momentos e contextos em que eles estabelecem relações com pessoas. Ilustro essa dinâmica com exemplos da construção das coleções Katxuyana como montagens, e de como valores foram e são construídos a partir disso no passado e no presente. Assim, este artigo espera ilustrar de que modo coleções museológicas detêm rico potencial para informar continuamente sobre passado, presente e futuro por meio de sua permanente remontagem (re-assemblage).