Essa ilusão, esse pequeno truque em favor da evolução espiritual dos jovens, era o que faltava no internato. Tudo lhe parecia palpável, e ainda assim impossível de jamais se resolver em pensamentos e palavras. Entre os fatos externos e o seu eu, sim, entre suas próprias emoções e o seu eu mais remoto, que ansiava por entendê-las, haveria sempre uma linha divisória que, como um horizonte, recuava ante o seu anseio. Quanto mais minuciosamente tentasse revestir as emoções com idéias, quanto mais as conhecia, mais estranhas e incompreensíveis lhes pareciam, de modo que já nem era como se recuassem diante dele, mas ele próprio se afastava, sem contudo livrar-se da impressão de que se aproximava delas. (Robert Musil, O jovem Törless). Resumo: O artigo discute a possibilidade da estética iluminar a ética na educação, interpretando a violência no processo formativo, a partir do Bildungsroman O Jovem Törless (1906), de Robert Musil. A consideração do sensível (aisthesis) para mobilizar os afetos e as emoções é uma estratégia que articula a complementaridade entre o saber filosófico (ética) e aquele que provém da literatura e das artes em geral (estética). O Jovem Törless aborda a violência no processo educativo, provocando a emoção que vincula o ético no estético e, assim, expõe como se preparam as mentalidades autoritárias. Por fim, o texto conclui que a criação poética de Musil expõe o avesso da educação, uma vez que a ordem da instituição educacional é subvertida pela desordem violenta que, trabalhada no processo interno dos sentimentos, provoca o próprio da estética: "emoção extrema". Palavras-chave: Violência. Educação. Estética. Ética. Musil. 1 Este texto integra a pesquisa Ética e educação: a questão do outro III, financiada pelo CNPq. 2 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com estudos complementares (Doutorado-sanduíche) na Universidade de Heidelberg; Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.