"Fui lá no posto e o doutor me mandou foi pra cá": processo de medicamentalização e (des)caminhos para o cuidado em saúde mental na Atenção Primária

Abstract

Buscou-se compreender como o cuidado em saúde mental vem sendo produzido na Atenção Primária, com base nas experiências de profissionais, usuários e familiares. As informações obtidas foram categorizadas pelos aspectos observados na efetivação da interface entre Atenção Primária e saúde mental, descritos como: medicamentalização dos problemas de saúde mental apresentados pela população; dificuldades no acesso dos usuários do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) à Unidade de Saúde da Família, e formação em saúde mental para os profissionais da Atenção Primária. O processo de medicamentalização perpassa as práticas dos profissionais e configura-se como a principal demanda dos usuários do CAPS, indicando a necessidade de ações desmedicalizantes, que encontram potência na incorporação de novas relações e dinâmicas sociais no território, maior articulação das equipes e estímulo à participação social da comunidade neste processo.

Tratamento medicamentoso e não medicamentoso de usuários de um Centro de Atenção Psicossocial

“…Para tanto, é fundamental o diálogo entre o saber científico dos profissionais e as convicções de cada paciente [13]. A interdisciplinaridade e a integralidade são fundamentais na produção do cuidado em saúde mental, ao garantir a longitudinalidade e continuidade da atenção [10,11].…”

“…Além disso, infere-se que o tratamento medicamentoso é a principal demanda dos usuários nos serviços de saúde mental. Essa prática, no entanto, pode representar uma barreira para o cuidado integral, por incentivar a medicalização em detrimento de terapias integrativas interdisciplinares [10,11].…”

<b>Conhecimento dos coordenadores de centros de atenção psicossocial sobre política nacional de saúde mental/ knowledge of psychosocial care center coordinators about the national policy of mental health<b>

“…Ela que detecta os casos ali nos lugares onde eles estão, com os agentes comunitários de saúde achando cada um deles dentro da sua casa, identificando cada um deles, referenciando pro CAPS os casos de CAPS. (1:15) Entretanto, os profissionais que atuam na atenção básica estão despreparados para lidar com o sofrimento psíquico e com as necessidades subjetivas das pessoas e, geralmente, as ações se limitam a reprodução de receitas e encaminhamentos a outros serviços especializados (2,4,17) . Diante desta realidade e considerando a demanda para esta área da saúde, é preciso capacitar e ou supervisionar as equipes que atuam na atenção básica com vistas ao atendimento das questões relativas à SM do cidadão (4,17,18) .…”

“…No Brasil, a Reforma Psiquiátrica iniciou-se na década de 1970, sob influência de concepções teóricas e experiências de diversos países, com uma nova visão de tratamento para as pessoas com transtornos mentais (1,2) . Neste cenário, o atendimento em SM tem sido redirecionado para a assistência psicossocial, com enfoque no modelo de atenção que cuida das pessoas no seu meio social.…”

“…No Brasil, tais premissas estão apoiadas na Política Nacional de Saúde Mental (PNSM) que propõe a criação de uma rede de serviços substitutivos abertos, de base comunitária e territorial sustentada na atenção psicossocial. Esta rede busca proporcionar às pessoas com transtorno mental a oportunidade de convívio Cienc Cuid Saude 2015 Abr/Jun; 14 (2): [1106][1107][1108][1109][1110][1111][1112][1113][1114] social, promovendo condição de cidadania (1,7) . Dentre os serviços substitutivos propostos pela PNSM, destacam-se os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que consistem em serviços abertos, de atenção diária, com livre acesso aos usuários, familiares e sociedade.…”