Competição e fatores abióticos influenciam comunidades vegetais nos páramos brasileiros. Orientadora: Andreza Viana Neri. As montanhas tropicais são grandes centros de biodiversidade no mundo, servindo como abrigos, berçários, mas também túmulos para muitas espécies. No Brasil, os campos de altitude, ou páramos brasileiros, são abrigos para diversas espécies endêmicas. Contudo, se encontram altamente ameaçados pelas mudanças climáticas, tendo em vista a sua distribuição restrita. A altitude e o solo são tidos como os principais promotores dos padrões de diversidade nesses ambientes, sendo o papel das interações bióticas negligenciado. Este estudo visa compreender como interações competitivas em associação com as variáveis topográficas determinam a estrutura e os padrões de diversidade desses ambientes, em seus aspectos taxonômico e funcional. Para tanto, estabelecemos 135 parcelas de um metro quadrado em uma montanha do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro. Coletamos dados de composição de espécies – pelos quais calculamos índices de diversidade taxonômica –, e traços funcionais – pelos quais medimos a média e a variância de cada traço na comunidade, bem como a diversidade funcional de diversidade funcional. Este estudo foi divido em dois capítulos, que buscam responder as seguintes perguntas: 1) Como a interação entre altitude, disponibilidade de solo e densidade da cobertura vegetal influenciam na composição e na diversidade de espécies em montanhas tropicais, em nível local? 2) Como estes mesmos fatores influenciam na filtragem de estratégias funcionais entre hábitats e na coexistência de diferentes estratégias em um mesmo hábitat? No primeiro capítulo, observamos que a composição de espécies foi influenciada pelos fatores ambientais, sendo a disponibilidade de solo o fator com maior poder de explicação. Observamos também, que a diversidade aumentou com a altitude e com a escassez de solo, mas diminuiu com a densidade da cobertura vegetal. Contudo, esse padrão esteve mais associado ao aumento da equidade do que com o aumento da riqueza. Isso pode ser explicado pela redução da dominância sob condições extremas, devido à presença de espécies altamente adaptadas, que devem apresentar fitness similares entre elas. No segundo capítulo, vimos que a vegetação da montanha é composta primordialmente por espécies tolerantes ao estresse, mas que variaram com relação a estratégias de uso do carbono, de resistência à seca e de investimento em crescimento. Para traços relacionados ao uso de carbono, houve um aumento da convergência funcional sob maiores altitudes e densidade de cobertura vegetal. Para traços relacionados a estratégias de resistência à seca, houve um aumento da convergência funcional em maiores altitudes e sob maior disponibilidade de solo. Nossos resultados sugerem que a altitude atua como um importante filtro abiótico nessas comunidades. Contudo, a filtragem de estratégias só acontece na presença de exclusão competitiva favorecida pelo aumento da disponibilidade de recursos e aumento da densidade de cobertura. Além disso, as médias de traços da comunidade variaram em função da interação entre os três preditores, sugerindo não haver uma única estratégia capaz de prover maior habilidade competitiva em todo o gradiente. Ao nível do habitat, a coexistência de espécies foi determinada principalmente pela disponibilidade de solo e altitude. Em alta altitude e alta disponibilidade de solo, houve maior dominância de espécies convergentes em estratégias de resistência à seca e de investimento em altura. Já em áreas de solo escasso em baixa altitude, as comunidades foram dominadas por espécies que divergem nessas estratégias, mas que apresentam alta tolerância ao estresse. Nosso estudo mostrou que os padrões de composição e diversidade taxonômica e funcional na montanha estudada são determinados pela interação entre fatores abióticos e bióticos. A predição dos impactos das mudanças climáticas nesses ambientes deve, portanto, levar em consideração as interações competitivas, que limitam a distribuição e permanência das espécies ao longo dos gradientes de altitude e solo. Palavras-chave: Campos de altitude. Filtragem ambiental. Competição. Estratégias ecológicas. Diversidade.