Futebol de mulheres na agenda da mídia: uma análise temática da cobertura da Copa do Mundo de 2019 em sites jornalísticos brasileiros

Abstract

Este artigo apresenta uma análise da cobertura da Copa do Mundo de futebol feminino de 2019, em sites jornalísticos esportivos brasileiros (Globo Esporte, UOL Esporte, ESPN, Torcedores.com e Placar). O objetivo é mapear o espaço concedido ao mundial deste ano, em que houve aumento considerável na cobertura midiática televisiva, com partidas transmitidas pela TV Globo, líder de audiência no país, em comparação a edições anteriores. O artigo discute a relação entre os conceitos de agendamento e critérios de noticiabilidade para interpretar o crescimento quantitativo e qualitativo na cobertura dos portais sobre o futebol de mulheres, modalidade até pouco tempo praticamente invisível aos olhos da grande mídia. O método utilizado para processar e classificar as 926 unidades do corpus foi a análise de conteúdo, a partir da qual foi possível identificar padrões e recorrências temáticas na cobertura midiática da Copa. Entre os principais resultados, destacamos um crescimento de 533% no número de notícias entre as Copas de 2015 e 2019 nos sites esportivos brasileiros. A pesquisa é uma contribuição teórica à Sociologia do Jornalismo, à Ciência da Comunicação e aos estudos acerca do futebol de mulheres no Brasil.

sucesso por trás dos números

“…Barreto Januário et al ( 2020) apontam que a intensificação e visibilidade da cobertura nos portais segmentados, como é o caso do blog Dibradoras, contribuíram para a construção de um público qualificado e para a percepção da grande mídia de que o FM é um objeto noticiável. Leal (2020), por sua vez, observa que a revista Placar, mais longínqua e por ele considerada a maior revista esportiva do Brasil, trouxe em 2019 um editorial com revisionismo histórico acerca da sexualização das mulheres jogadoras de futebol e pediu desculpas pelo passado machista. A ação, segundo o autor, deu-se após os editores da Placar lerem uma publicação das Dibradoras com críticas às antigas posições da revista.…”

“…A história mostra quanto custou (e ainda custa) a luta pela igualdade de gênero no futebol . Sem a criação de uma cultura de cobertura contínua na agenda da mídia (MCCOMBS e SHAW, 1977), o FM foi, historicamente, permeado por contornos de invisibilidade, silenciamento (GOELLNER, 2005;LEAL, 2020) e, ao ganhar publicidade, permanentemente alvo de metáforas associadas às linguagens que se ancoraram em evidências abarcadas por ideais ultrapassadas dos ideais de masculinidades e feminilidades, tais como "fragilidade, estética, masculinização e resistência" (MOURÃO, MOREL, 2005, p.75).…”

“…Especialmente nos últimos 20 anos, a relação entre mídia e futebol de mulheres tem despertado no Brasil cada vez mais a atenção de pesquisadores (GOELLNER, 2005;KNIJNIK e SOUZA, 2004;MOURÃO e MOREL, 2005;COSTA, 2017;LEAL, 2020). Afinal, entre o decreto-lei que interditou as mulheres de praticarem o futebol entre 1941 e 1979, o esquecimento da mídia nos anos subsequentes, a visibilidade social em massa com os recordes de audiência em 2019 (BARRETO JANUÁRIO et al, 2020) e a continuidade dos altos índices de audiência inclusive em outras plataformas, como o perfil da Cazé TV no Youtube, durante a Copa de 2023, muita coisa mudou.…”

“…https://doi.org/10.46391/ALCEU.v24.ed52.2024.421 ALCEU (Rio de Janeiro, online), V. 24, Nº 52, p.142-157, jan./abr. 2024 Se a luta por equidade de gênero no esporte mais popular do país é perene e tende a um longo caminho sem fim em um horizonte próximo, podemos ao menos afirmar a partir de estudos recentes (BARRETO JANUÁRIO et al, 2020;LEAL, 2020) que a chave da discussão envolvendo o futebol de mulheres começou a virar. Sem perder o senso crítico e fazer ponderações que freiam o entusiasmo do momento (GOELLNER, 2020), entendemos que é hora de fazer projeções mais ousadas e começar a deixar para trás o "quando" e passar a questionar "como" o mercado irá monetizar essa nova cultura de consumo.…”

Journalistic Coverage of Football in the Tokyo 2020 Olympic Games: A Comparative Analysis between the Brazilian Women's And Men's Team

“…Barreto Januário et al, (2020), apresentam em seu artigo, fatores significantes que nos mostram como uma forte aparição midiática no principal meio de comunicação do país pode alavancar ainda mais esse esporte, fazendo com que a curiosidade se transforme em audiência. Sabendo que o futebol praticado pelas mulheres não tem muita visibilidade no país, o estudo tem o intuito de tentar de alguma forma diminuir esse preconceito, ao identificar e discutir o tratamento que a mídia dá à modalidade praticada por mulheres, para assim causar reflexão sobre nossos meios de comunicação e subsidiar mais pesquisadores a se debruçar sobre o tema, que é de suma importância para a sociedade, uma vez que ele visa quebrar barreiras impostas pela mesma.…”