A co-construção do humor conversacional para encobrir diferentes objetivos interacionaisThe co-construction of conversational humor to mask different interactional objectives
IntroduçãoRelacionado à piada e ao riso, à provocação e ao ridículo, à ironia entre outras manifestações, o humor tem sido objeto de estudo de diferentes áreas do saber tais como a Filosofi a, Psicologia, Sociologia, Antropologia, Comunicação (Travaglia, 1990;Norrick, 2003). O humor também tem sido estudado em diferentes tradições de pesquisa dos estudos da linguagem. Estudos linguísticos focados no humor tem se voltado para a compreensão semântica do humor (Norrick, 1986), outros para aspectos pragmáticos (Sperber e Wilson, 1981;Kotthoff, 2003;Attardo, 2001). Estudos voltam-se também para a construção da estrutura e formação do humor na abordagem da Análise da Conversa (Sacks et al., 1974) e, ainda, numa perspectiva interacional focalizam estilos conversacionais, estratégias de envolvimento e a construção do enquadre interativo (Tannen, 1984; Coates, 2007 e outros). As pesquisas, realizadas em diferentes contextos, ainda procuram ora estabelecer uma tipologia para o humor, ora a piada (Attardo, 1996), ora a ironia (Kotthoff, 2003; Tannen, 1984), a provocação (Straehle, 1993), para mencionar alguns. Esse breve quadro confi rma não apenas o grande interesse de pesquisadores pelos estudos sobre o humor, mas também aponta a complexidade desse fenômeno.Além disso, embora haja um interesse crescente pelos estudos do humor, esse campo de estudo ainda é pouco compreendido nas ciências sociais, seja por não ter sido proposto enquanto conceito até há pouco tempo, seja por enfrentar problemas de "reconhecimento e credibilidade enquanto disciplina acadêmica" (Raskin, 1985, in Travaglia, 1990 in Rosas, 2003, p. 136). Segundo [Raskin] estes seriam entraves "típicos de campos interdisciplinares, aqui provavelmente agravados pela crença ampla e talvez inconsciente de que nada agradável, divertido seja um assunto respeitável para um campo acadêmico" (Rosas, 2003, p.2).Acresce ainda que, segundo Rosas, RESUMO -Neste artigo, propomos contribuir para os estudos do humor conversacional em encontros informais, numa perspectiva interacional. Mostramos a co-construção do humor, entre amigos, com base no enquadre da brincadeira (Bateson, 2002), tendo em vista a superposição ou laminação dos enquadres (Goffman, 1974; Tannen e Wallat, 2002; Gordon, 2008) e observando as pistas de contextualização , na sequência conversacional. Para isso, consideramos a gravação em áudio de encontros informais entre amigos, nos quais preparam saborosos pratos, totalizando 16 horas de gravação. Evidenciamos que (i) o humor co-construído pode funcionar como uma lâmina que encobre pedidos, (i) os participantes estão cientes de suas habilidades de manipularem enquadres, usando simultaneamente a brincadeira e algum outro enquadre e (iii) os pedidos encobertos pelo humor não são necessariamente atendidos.Palavras-chave: humor conversacional, conversa informal, enquadre interacional.ABST...