Geografia da Diferença: Diferenciações Socioespaciais e Raciais

Cidade, encarceramento e violência: uma geografia da sobrevivência dos negros para os estudos organizacionais

“…Como deixaram de morar nas casas dos senhores, os negros passaram a viver em casas populares, os cortiços, que, além de serem estigmatizados como ambientes promíscuos, também eram alvo de destruição em nome dos discursos de modernização e higienização, o que, na verdade, revela a política de branqueamento social e de genocídio da população negra (Teixeira, 2021). Tem-se aqui o racismo como elemento estruturante da hierarquização dos corpos e dos locais que as pessoas ocupam, com ordenação espacial das relações raciais na cidade, que se mostra em sua forma mais perversa pelo aniquilamento do corpo negro, em condições precárias de viver e habitar a cidade (Ferreira & Ratts, 2016). Sansone (1996), ao considerar as implicações da cor nas relações de poder e nas relações sociais, traça três conceitos importantes: áreas "moles", áreas "duras" e espaços negros:…”

“…Já discussões específicas de raça dentro da virada espacial remontam ao texto de McCann (1999), que analisa a contextualização do direito à cidade de Lefebvre diante das relações raciais, da violência policial e da resistência da população negra nos Estados Unidos. No Brasil, a discussão sobre raça e cidades tem ocorrido, recentemente, sobretudo nas áreas de geografia e sociologia, e entre tais discussões destacam-se os diálogos de espaço e raça (Ferreira & Ratts, 2016;Nogueira, 2018;Leandro, 2019;Panta, 2020) assim como de gênero, raça e cidade (Raul, 2015;Correia, Coelho, & Sales, 2018;Mastrodi & Batista, 2018).…”

Direito do Negro à Cidade: de uma Formação Socioespacial Racista à Utopia Lefebvriana

“…No que diz respeito aos diálogos entre raça e direito à cidade, estão presentes em áreas do conhecimento em que a virada espacial se manifestou há mais tempo, como Geografia e Sociologia. Dentre esses estudos, destacam-se aqueles que relacionam espaço social e raça (Ferreira & Ratts, 2016;Nogueira, 2018;Panta, 2020;Pereira, 2019), que tratam de racismo e direito à cidade em localidades específicas, como Salvador (Cruz & Santana-Filho, 2020) e Londrina (Panta & Silva, 2020), assim como gênero, raça e cidade (Correia et al, 2018;Raul, 2015). Já no presente artigo propomos operar a interseccionalidade no direito à cidade a fim de espacializar a questão racial de gênero e de classe, uma vez que contemplar uma cidade lida a partir dessas dimensões contribui para o desvelamento de realidades opressoras e parte do próprio contraespaço que é o direito à cidade.…”

“…Racismo, tal qual se manifesta em nossa sociedade, não é irracional, desvio de caráter ou simples fruto da ignorância. Ele é elemento estruturante da hierarquização dos corpos (Ferreira & Ratts, 2016) e do lugar a eles relegados, ou seja, espacializa as relações raciais. Conforme discutido por Santos (1996Santos ( /1997, a corporeidade é um elemento tão significativo do racismo quanto a individualidade, ainda mais quando consideramos que os negros são indivíduos com a cidadania mutilada:…”

City, incarceration, and violence: geography of Black survival for organizational studies

“…On the other hand, specific discussions on race from the viewpoint of spatial turn appear on a text by McCann (1999), who analyses the contextualisation of Lefebvre's right to the city vis-à-vis racial relations, police violence and resistance by the black population in the United States. In Brazil, the debate on race and cities is, recently, taking place mainly in the fields of geography and sociology, the most relevant being space and race dialogues (Ferreira & Ratts, 2016;Nogueira, 2018;Leandro, 2019;Panta, 2020), and gender, race and cities dialogues (Raul, 2015;Correia, Coelho, & Sales, 2018;Mastrodi & Batista, 2018).…”