ResumoEste artigo tem como objetivo apresentar a perspectiva da construção narrativa do self e da identidade a partir da Psicologia Socio-histórica de L. S. Vygotsky, mostrando seu desenvolvimento na Psicologia Cultural, particularmente nos escritos de Jerome Bruner até autores contemporâneos, com destaque para os trabalhos de Hubert Hermans, Dan McAdams, Tilmann Habermas e Robyn Fivush. O conceito de self narrativo aparece como desenvolvimento do paradigma narrativo e como uma importante contribuição ao estudo da internalização das funções psicológicas superiores e à compreensão da construção do sujeito sócio-histórico. A identidade, como espaço de construção do sujeito psicológico parece ser um lócus privilegiado onde podemos observar o funcionamento do paradigma narrativo em termos de negociação de signifi cados entre os acontecimentos biográfi cos e o indivíduo. Palavras-chave: Narrativa, identidade, self dialógico, histórias de vida.
AbstractThis paper aims to present the narrative construction of the self and the identity from the perspective of Vygotsky's Socio-historical Psychology. It also shows the development of narrative construction in Cultural Psychology, particularly in the writings of Jerome Bruner up to contemporary authors, highlighting the work of Hubert Hermans, Dan McAdams, Tilmann Habermas and Robyn Fivush. The concept of the narrative self appears as a development of the narrative paradigm and as an important contribution to the study of the internalization of higher psychological functions and to the understanding of the construction of the socio-historical subject. The identity as a space for the construction of the psychological subject seems to be a privileged place where we can observe the development of the narrative paradigm in terms of negotiation of meaning between biographical events and the individual. Keywords: Narrative, identity, dialogical self, life stories.A abordagem narrativa do self e da identidade consolidou-se recentemente no campo da psicologia a partir dos escritos de Hermans e Kempen (1993) e McAdams (2001). Ela tem como princípio a ideia de que a história contada por uma pessoa acerca de sua vida pode ser tomada como um retrato de seu próprio self e de sua identidade. Em uma abordagem narrativa, os conceitos de identidade e self aparecem muito próximos um do outro. McAdams (2001) faz questão de marcar a diferença, na medida em que concebe identidade como uma qualidade do self, isto é, como "uma confi guração integrativa do self no mundo adulto" (p. 102). A identidade é aqui defi nida como a integração sincrônica e diacrônica do self capaz de situar a pessoa em algum nicho psicossocial e dar um mínimo de propósito e sentido a sua vida. Em Hermans e Kempen (1993) identidade e self aparecem aglutinados no conceito de self formulado por William James (1890). James concebe o self como organizado em torno de um sujeito que conhece (ou I) e um objeto que se dá a conhecer (ou Me). As características do I são a continuidade, a diferenciação e a volição. A continuidade é ca...