Este estudo propõe refletir sobre como a formação em Nutrição é passível de reproduzir gordofobia, e os riscos impostos às pessoas gordas por essa opressão. A gordofobia, enquanto discriminação dos indivíduos gordos, consequente da estigmatização, traduz-se em desigualdades nos mais diversos ambientes, repercutindo nos níveis biológico, psicológico, social e econômico. A hierarquização das populações consideradas mais ou menos saudáveis, baseada na lógica médico-estatística polarizada entre normal e patológico, sustenta a predominância da fisiologia no estudo das ciências da saúde, consolidando práticas de intervenção e controle sobre os desviantes, como medidas de prevenção. A formação teórica, enquanto definidora da prática, apresenta dilemas criando uma tendência de atuação patologizante, direcionando os Cursos de Nutrição a priorizarem interesses econômicos em detrimento das demandas sociais. Essa patologização contribui para a manutenção do modelo de saúde que corrobora a busca incessante pelo tipo corpóreo ideal, favorecendo a mercantilização das práticas em saúde. O debate conceitual e teórico mostra-se essencial para a discussão da abordagem prática, uma vez que a crença na obesidade enquanto reflexo das qualidades morais dos indivíduos tem importantes consequências sociais. De forma agravante, ao reproduzir a estigmatização das pessoas gordas, os profissionais as afastam do acesso aos serviços de saúde. Para desenvolver práticas humanizadas, promotoras de saúde e que reconheçam o indivíduo em sua historicidade e sociabilização, é preciso desenvolver outras concepções de saúde, já que a abordagem clínico-biomédica se mostra insuficiente para atuar de maneira satisfatória diante desta complexidade.DOI: 10.12957/demetra.2018.33311