A escrita infantil desperta interesse pedagógico e clínico, por apresentar ocorrências ortográficas não convencionais – aquelas que fogem às normas ortográficas. Um tipo frequente dessas ocorrências são as inserções ortográficas – acréscimos de grafemas em posições não previstas pela ortografia convencional da palavra. Porém, a literatura não investiga especificamente esse fenômeno, nela apenas mencionado ou quantificado. Dessa forma, a partir dessa lacuna e considerando que as inserções ortográficas corresponderiam, na fala, às epênteses, este trabalho teve como objetivo identificar características fonético-fonológicas das inserções de grafemas na ortografia infantil. A hipótese da pesquisa foi a de que as inserções ortográficas, assim como as epênteses na fala, resultariam em simplificações silábicas. Foram analisados dados extraídos de 98 textos de 64 crianças que frequentavam uma escola pública do interior de São Paulo, apresentando 170 inserções. Dentre elas, 87,6% provocaram aumento da complexidade silábica. Tal aumento resultou de espraiamento de traço fonológico e de ditongação, com predomínio desta última. De três subtipos de ditongação encontrados, redução de distância fonológica predominou sobre transição formântica e palatalização. Os resultados mostram que a hipótese de pesquisa não foi confirmada, já que as inserções resultaram em aumento – e não em redução – da complexidade silábica. Vê-se, pois, que, embora ancoradas num mesmo sistema fonológico da língua, a relação entre características desse sistema na fala não são diretamente espelhadas na escrita. Desse modo, nem sempre é possível projetar padrões de ocorrências da fala na escrita, especialmente porque esses dois modos de enunciação circulam diferentemente numa mesma formação social.